Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

sábado, 19 de março de 2011

Apenas um encontro de cavalheiros?



Na semana que passou, mais precisamente na quarta-feira 16/03, a Paraíba presenciou um encontro até há pouco tempo impensado entre o prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital (PMDB), e o ex-governador tucano, Cássio Cunha Lima (PSDB). O mote do encontro foi a instalação da sede da AACD - Associação de Assistência à Criança Deficiente - na "Rainha da Borborema". A prefeitura de Campina estaria disposta a fazer a doação de um terreno para a instalação desse empreendimento social na cidade pensado pelo líder do PSDB paraibano. 
Esta foto acima representa o momento deste encontro tão amplamente comentado em todos os meios políticos de nosso Estado desde a última quarta-feira. E não é para menos. Afinal de contas, trata-se de dois adversários políticos que há anos vêm travando sucessivos embates, com vitórias e derrotas para ambos os lados. Veneziano tem acumulado mais vitórias sobre Cássio no último período no plano municipal (venceu as duas disputas pela Prefeitura de Campina Grande contra o candidato apoiado por Cássio quando este era governador do Estado). Ao mesmo tempo, Veneziano não conseguiu fazer com que seu prestígio local se materializasse em vitória para seu candidato ao governo do Estado. Só pra falar da última eleição, Cássio garantiu a vitória de Ricardo Coutinho nos dois turnos eleitorais com dois retumbantes resultados em Campina Grande e na região polarizada por esta. São, portanto, duas novas lideranças burguesas da política paraibana e que vêm procurando conquistar a hegemonia da política oligárquica, característica central da política em nosso Estado. 
Este encontro faz com que eu mantenha a avaliação que tenho desde que foi feita a composição entre Ricardo Coutinho e Cássio Cunha Lima, em 2010. Para quem não está entendendo nada, explico melhor a seguir.
Quem acha que este encontro entre Cássio e Veneziano foi apenas um encontro administrativo, para tratar da instalação da AACD, pode começar a acreditar em Papai Noel que é melhor, ok? Acredito seriamente que Cássio começa, a partir deste encontro, a "mexer os pauzinhos" para construir uma alternativa ao seu futuro político caso não garanta seu mandato como senador por meio da decisão do STF.
Afirmo isso porque, como legítimo representante de um setor da oligarquia paraibana, Cássio Cunha Lima não consegue ficar longe do poder. Assim é a oligarquia, ela não consegue ficar sem estar perto do poder. É como o ar que respiramos, sem ele morremos; assim é o poder para a oligarquia. Sem ele por perto, ela definha e morre. Por isso, acredito que se o STF não garantir a Cássio o seu mandato de senador e o enquadrar definitivamente na lei do "ficha limpa" e ele ficar inelegível por 8 anos - é isso que prevê a lei - a tendência, na minha avaliação, é que Cássio comece a construir a ruptura com Ricardo Coutinho. Isso passa pelas eleições municipais e a propaganda que já se faz em torno do nome do filho deste, Diogo Cunha Lima, para ser o candidato à prefeito de Campina Grande não é mera coincidência. E este encontro, na atual situação política em que Cássio e Veneziano se encontram também não pode ser encarada como mera coincidência. E que situações politicas são essas?
Cássio está na berlinda, lutando no STF para garantir o mandato de senador conquistado nas urnas eleitorais em 2010. Em certo momento dessa luta, o próprio Cássio chegou a admitir que provavelmente não conseguiria garantir o mandato conquistado através dos votos dos/as eleitores/as paraibanos/as. Já Veneziano não se diferencia muito de Cássio na atualidade. Enfrenta no TRE/PB um processo de cassação de mandato solicitado pelo atual vice-governador do Estado, Rômulo Gouveia (PSDB), aliado de Cássio e candidato derrotado por duas vezes por Veneziano nas eleições municipais de Campina Grande. Além disso, a Prefeitura de Campina Grande está enfrentando inúmeras dificuldades, como a suspensão de envio de recursos federais ao município por conta de  dívidas. Tudo isso faz com que a popularidade de Veneziano caia cada vez mais.
Portanto, não seria de todo ruim para ambos - Cássio e Veneziano - uma aliança para as eleições de 2012. Assim, o que para muitos soou apenas como um encontro de cavalheiros, de "políticos da nova geração paraibana" que sabe separar as divergências, pode ter sido uma preparação para uma situação de futuro. Ou, como diria o grande mestre do cancioneiro popular, Santanna, pode não dar em nada.   
Se eu fosse Ricardo Coutinho, colocava desde já minhas barbas de molho, como se diz no popular.

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