Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

Reunião do Soviet de Petrogrado em 1917

A Revolução Russa: expressão mais avançada de uma onda revolucionária mundial.

Diretas Já

Luta por dias melhores

sábado, 31 de dezembro de 2022

Para onde vai o PT???





Neste domingo, 1º de janeiro de 2023, Lula e o PT começam oficialmente seu novo governo, o 3º desde que assumiu o Palácio do Planalto em 2003. Isso depois de uma eleição muito atribulada e definida no 2º turno com uma diferença de apenas 1,8% (ou 2.139.645 votos) de seu adversário, o então presidente Jair Bolsonaro (PL), que tornou-se o primeiro presidente a NÃO conseguir a reeleição, em nossa história recente. 
Lula chega ao Planalto nesta nova empreitada política após conseguir uma aliança inusitada e surpreendente para a maioria das pessoas, colocando o ex-tucano e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, filiado ao PSB, como seu vice nesta composição. Além disso, Lula e o PT conseguiram fazer uma aliança política com partidos da "esquerda oficial" e também da direita, como PCdoB, PV, SOLIDARIEDADE, PSOL, REDE, PSB, AGIR, AVANTE e PROS e também setores do MDB (como os  senadores alagoano e paraibano Renan Calheiros e Veneziano Vital, respectivamente, o governador do Pará Jáder Barbalho Filho, dentre outros) que, apesar de ter Simone Tebet (senadora por MS), apoiaram o candidato petista no 1º turno eleitoral. Já no 2º turno, esta aliança foi ampliada com a presença de Tebet, que ficou em 3º lugar na primeira fase da disputa presidencial e também do derrotado Ciro Gomes (PDT), além deste partido como um todo, além da candidatura causar divisões em partidos da direita, como União Brasil, dentre outros apoios que vieram no turno decisivo.
Isso faz com que Lula tenha composto um ministério para iniciar seu 3º mandato com a presença de vários partidos, além de pessoas sem nenhuma presença partidária. São 37 nomes para compor o 1º escalão deste novo governo, com uma divisão expressada da seguinte forma: 10 nomes do PT, 3 do MDB (incluindo Simone Tebet, que será ministra do Planejamento), 3 do PSB (incluindo o vice-presidente Geraldo Alckmin, que será ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), 3 do União Brasil 3 do PSD, e 1 nome do PDT, PSOL, REDE e PCdoB (cada). E, como afirmamos, 11 ministros/as que NÃO possuem filiação partidária, como José Múcio (ministro da Defesa), Margareth Menezes (ministra da Cultura), Ana Moser (ministra dos Esportes), Sílvio Almeida (ministro dos Direitos Humanos), Anielle Franco (ministra da Igualdade Racial) e Nísia Trindade (ministra da Saúde), dentre outros/as nomes.
Com esta composição, Lula define na prática que seu novo governo será de "unidade nacional", expresso várias vezes pelo próprio Lula em vários momentos da campanha eleitoral. Ou seja, Lula e o PT colocam novamente para milhões de trabalhadores/as de nosso país que governará, mais uma vez, "para todos", como se isso fosse possível.
A presença de alguns nomes neste ministério já revelam que esta afirmação de Lula e do PT é simplesmente frase bonita para enganar as pessoas. A indicação de Fernando Haddad (PT) ao Ministério da Fazenda passou por uma aprovação, ainda que não majoritária, do mercado financeiro com Simone Tebet no Ministério do Planejamento, tendo sob suas mãos o PPI (Programa de Parcerias e Investimentos), que é responsável pelas privatizações e concessões ao setor privado - apesar de Lula afirmar que não haverá privatizações em seu governo -; a presença  de Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, agradando em cheio os grandes empresários do país; a participação do senador Carlos Fávaro (PSD/MT) no Ministério da Agricultura, representando setores importantes do agronegócio neste governo; a indicação de José Múcio (ex-conselheiro do TCU) no Ministério da Defesa, Múcio que começou sua carreira política na ARENA (partido da ditadura militar), depois do PDS e também do PTB, partidos que NADA têm a ver com as lutas da classe trabalhadora brasileira, tudo isso revela que o 3º mandato de Lula no Planalto tende a ser uma repetição - para pior - do que já ocorreu em seus dois outros mandatos. Teremos, provavelmente, uma cópia piorada neste novo governo de Lula e do PT.
Muitos pontos corroboram para afirmamos isso. Primeiro, no passado recente quando analisamos os governos anteriores de Lula,  verificamos que nestes, houve uma imensa ajuda financeira aos bancos e empresários do país, ao mesmo tempo em que Lula repassava algumas verbas aos setores explorados que, apesar de terem melhorado um pouco suas condições de vida, tudo isso não passou de migalhas oferecida pelo governo. Segundo, tudo isso foi possível nos dois primeiros mandatos porque havia uma conjuntura internacional muito diferente da que Lula (favorável a este) vai enfrentar a partir de janeiro/2023, onde vivemos (dentro e fora do país), uma situação de desemprego acelerado, distribuição de renda cada vez maior, aumentando o fosso entre ricos e pobres, destruição cada vez mais acelerada do meio ambiente, aumento exacerbado dos preconceitos,  discriminações e xenofobia contra mulheres, negros, LGBT's e imigrantes.
Tudo isso são características do quadro nacional e mundial que Lula e o PT enfrentarão a partir de 2023. Como este novo governo irá se comportar diante tudo isso, não temos bola de cristal para afirmarmos algo. Mas, diante das concessões já feitas a vários setores políticos antes mesmo de assumir - como o apoio do PT, PCdoB e PV - à reeleição do deputado federal e líder do "Centrão" à Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), sem falar na grande articulação feita com partidos de direita (especialmente) para aprovar a PEC da Transição. Ao contrário do que muitos afirmam - como as principais lideranças do PSOL, PCdoB e o próprio PT -, esta PEC mantém o teto de gastos criado por Temer através da EC 95 e , com isso, "aponta para um remodelamento do que chamam de 'âncora fiscal', ou seja, um sistema que perpetua essa política econômica que drena recursos do país, e da classe trabalhadora, para os grandes banqueiros" (https://www.pstu.org.br/o-real-significado-da-pec-de-transicao/).
Concluímos reafirmando: NÃO POSSUÍMOS BOLA DE CRISTAL para prever o que será o governo Lula em seu terceiro mandato, mas um passado recente construído pelo próprio Lula e PT em anos anteriores nos levam a crer que NÃO teremos tempos alvissareiros, como vive afirmando Lula desde a campanha eleitoral.
Cenas dos próximos capítulos..............

 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Para onde vai o PSOL???







Nos últimos dias, antes de todas essas polêmicas criadas em torno das aprovações (ou não) da PEC da Transição, na Câmara dos Deputados, e do Orçamento Secreto, no STF, vem ocorrendo uma outra polêmica, no campo da esquerda socialista, que definirá os rumos de um partido e de toda uma militância não apenas em 2023 - ano do 1º novo governo Lula -, mas de todo esse conjunto nos próximos anos.

Trata-se da entrada ou não do PSOL na base governista do governo Lula, a partir de janeiro de 2023.

A polêmica teve início, nos portais de notícias, com a declaração da líder do PSOL na Câmara dos Deputados, Sâmia Bomfim (SP), que afirmou que o partido deve "se manter independente durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva" para, segundo a deputada psolista, "assegurar liberdade para liderar o debate de pautas ideológicas defendidas pelo partido" (https://www.poder360.com.br/congresso/psol-nao-deve-integrar-governo-lula-diz-samia-bomfim/) ao longo desses anos especialmente no Congresso Nacional. Sâmia "esquece" que o PSOL fechou uma federação com o partido burguês Rede, bancado pelo Itaú, e que isso dificultará - e muito - a defesa dessas "pautas ideológicas" defendidas por ela e pelo partido. Na prática, Sâmia Bomfim defende que o PSOL apóie o governo Lula, mas sem integrar sua base governista.

Após esta declaração, o novo peso-pesado do PSOL e "queridinho" de Lula, Guilherme Boulos (SP), rebateu as declarações da líder do partido na Câmara dos Deputados e afirmou defender que o partido integre a base do governo Lula e não fazer oposição a este ao lado dos bolsonaristas. Para Boulos, "quem vai fazer oposição ao Lula é o bolsonarismo, e não estaremos ao lado deles", afirmou o deputado federal mais votado de São Paulo nas eleições 2022 (https://politicalivre.com.br/2022/12/boulos-rebate-samia-e-diz-que-psol-nao-fara-oposicao-a-lula-ao-lado-de-bolsonaristas/#gsc.tab=0). Ainda segundo o líder do MTST e deputado eleito, "o governo será de frente ampla, e nós temos que disputar internamente espaços para puxar a agenda do país para a esquerda", concluiu Boulos (idem). O que Boulos NÃO fala é que essa esquerda que defende que o governo Lula é de "disputa" e que tem que disputar internamente cada vez mais espaços para puxá-lo à esquerda já está perdendo este jogo, vide o avanço do "Centrão" e de sua principal liderança, Arthur Lira (PP/AL) sobre o governo, garantindo apoio do PT, PCdoB e PV à sua reeleição na Câmara dos Deputados e jogando ainda mais pesado com o governo eleito para aprovar a PEC da Transição.

Em seguida às declarações de Boulos, as deputadas do PSOL, Talíria Petrone e Erika Hiton - do Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente -, também defenderam que o partido integre a base governista do PT e de Lula a partir de 2023. Segundo Talíria Petrone, "estamos entre aqueles que defenderam que o PSOL apoiasse a candidatura de Lula desde o primeiro turno. Com o fascismo não se brinca", concluiu a deputada; já a primeira deputada federal trans do país, Erika Hilton afirmou que "o PSOL tem a responsabilidade de defender o governo Lula contra qualquer tipo de golpismo e não fará oposição ao governo", afirmou a deputada federal eleita (https://politicalivre.com.br/2022/12/taliria-petrone-e-erika-hilton-defendem-que-psol-integre-a-base-de-lula/#gsc.tab=0). Para Erika Hilton, portanto, fazer oposição ao governo Lula é ser golpista. Qualquer semelhança com a posição de Boulos sobre isso NÃO é mera coincidência, na nossa avaliação!!!


Por fim, um artigo divulgado no site "Esquerda Online" revela a posição da direção da corrente interna do PSOL, conhecida como Resistência. É o artigo "Três táticas dividem a esquerda socialista", assinado pelo professor e dirigente político Valério Arcary. Neste, Arcary afirma existir três posições dentro da esquerda socialista acerca do futuro governo Lula. De acordo com o dirigente político da Resistência, as posições se dividem entre: 1) os que defendem a participação no governo Lula, como o "PSOL Popular" -aliança entre  as correntes internas "Primavera Socialista", liderada pelo presidente nacional da legenda, Juliano Medeiros, e "Revolução Solidária", liderada por Guilherme Boulos-; 2) os que defendem a construção da oposição de esquerda, como o PSTU; 3) os que defendem "a governabilidade de Lula, preservando a independência do PSOL", posição defendida pelas correntes internas Insurgência, Subverta e Resistência, dirigida por Arcary, numa aliança entre estas chamada de "Semente do PSOL".

Resumindo a polêmica do PSOL neste momento: ao contrário do que afirma Arcary, NÃO existem três posições (ou táticas, como melhor ele classifica) da esquerda socialista em relação ao governo Lula, mas sim apenas duas: participar do governo de "frente ampla e disputar internamente os espaços" para que  este governo vá a para a esquerda, como afirma Boulos ou construir uma oposição de esquerda, como vem chamando o PSTU  e outras forças políticas deste campo a partir de janeiro de 2023, com um programa da classe trabalhadora, a começar pela revogação das "reformas" trabalhista e previdenciária, encaminhadas pelos governos Temer e Bolsonaro e que vem causando enormes prejuízos aos/às trabalhadores/as de nosso país. A posição adotada pela Resistência e correntes internas do partido aliadas a esta, expressada por Arcary, relembra os áureos tempos do PSDB, famoso por ficar "em cima do muro" e, assim, não se comprometer com ninguém naquele momento. Mas, Arcary sabe que a luta de classes cobra, ainda que num futuro distante, a conta dessa postura vacilante perante a classe trabalhadora. Ele, com formação trotskista e morenista, sabe muito bem disso.

Em tempo: a reunião do PSOL que definirá se o partido deve ou não integrar a base do governo Lula ocorrerá neste sábado, 17/12 e, na minha modesta avaliação, creio que o PSOL não apenas decidirá por integrar a base do governo Lula como também indicará nomes a alguns cargos neste governo, a começar por ministérios, Cenas dos próximos capítulos.............