Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

segunda-feira, 30 de março de 2020

O coronavírus e a conjuntura nacional: os possíveis cenários após esta pandemia!!!







A pandemia do coronavírus em nosso país e no mundo tem provocado alterações substantivas no cotidiano de milhões de pessoas. Em vários países, o isolamento social é uma política cada vez mais usada pelos governos de várias matrizes ideológicas como uma forma eficaz de combater a propagação. Em vários desses países, de todos os continentes, governos e classe política em geral têm se movimentado no sentido de buscar formas de proteger seus povos, inclusive no campo econômico, com algumas medidas em benefício de garantir alguns direitos para seu povo (apesar de continuarem a pensar nos ricos e poderosos). Outros, como o Brasil de Bolsonaro, se notabilizam pelo ataque frontal de maneira mais incisiva, mesmo nesta época, aos direitos da classe trabalhadora. Recentemente, uma revista norte-americana o classificou como a "liderança negacionista do coronavírus".
Boa parte deste artigo tem origem em uma conversa que tive com um companheiro de luta sobre a situação atual por que passamos. Evidentemente, a conjuntura nacional é bastante influenciada pelos acontecimentos ocorridos em nível mundial. Mas, há especificidades em nossa conjuntura que não podem ser desprezadas. E, com ela, os possíveis cenários do que virá após esta pandemia concluir.
Primeiro, acreditamos que a pandemia do coronavírus deve durar um bom tempo em nosso território. Pelo menos até maio/junho isto deve continuar, infelizmente. E, junto com ela, a conjuntura será permeada pela dinâmica absurda que vivenciamos a cada dia, no Brasil e no mundo, com os fatos se sucedendo em velocidade absurda.
Temos visto alguns elementos presentes nesta conjuntura que nos remetem a idealizar algumas possibilidades do que está por vir. Como historiador, não me apetece fazer previsões, mas sim elencar algumas variáveis que, conforme seu conceito, podem ocorrer ou não e, assim, a discordância sobre isto é plenamente aceitável.
De antemão, queremos afirmar que, em nossa avaliação, a pandemia do coronavírus em nosso país, sacramentou o fim da “Nova República”, etapa histórica de nosso país, criada a partir do fim da ditadura militar e ascensão da dupla Tancredo Neves/ Sarney ao poder, em 1985. A eleição de Bolsonaro, em 2018, representou um duro golpe nos alicerces criados pela “Nova República”, como as garantias individuais expressas na Constituição de 1988 e o consenso e a ordem presentes até então. O discurso de Bolsonaro sempre foi contrário a tudo isso e sua eleição representou uma ruptura com este modelo burguês no Brasil.
Bolsonaro, com sua prática à frente do governo, é adepto do confronto direto e sistemático com vários setores sociais de nosso país, sejam  estas parcelas da grande burguesia como com os trabalhadores. Sua ascensão ao Planalto representa, em nosso entendimento, a cristalização da extrema-direita no Brasil. Isto tende a permanecer com sua saída do governo (voluntária ou não). Anteriormente escondido na sociedade brasileira, este discurso já está consolidado em nossa população – setores dela, pelo menos -. Bolsonaro apenas é o exemplo desta posição ideológica presente com força em nosso território.
Um outro aspecto que precisamos verificar é a atual postura da centro-direita de nosso país. Amplamente reconhecida como fisiológica e oportunista, esta fatia da política nacional possui características próprias que, em nossa avaliação, não combinam com o discurso da extrema-direita. Apesar da centro-direita participar do consórcio político feito por Bolsonaro, esta não sustenta em ficar por muito tempo na aba deste setor. A retórica da extrema-direita é incompatível para a centro-direita no quesito relativo à democracia (ou a falta desta), discurso frequente da extrema-direita.
A centro-direita, expressa por boa parte dos grandes empresários e banqueiros do país, ganham (e muito) com a política adotada por Bolsonaro de retirar/atacar os direitos dos trabalhadores, pois assim vêm sua margem de lucros aumentar cada vez mais, apesar de em tempos de coronavírus, esta sofrer um abalo significativo, com sucessivas quedas ocorridas na Bolsa de Valores de todo o mundo e da Bovespa, em especial. Mas, este setor precisa da democracia burguesa, com seus direitos individuais, preservada para poder conviver em ambiente de paz, desde que seus lucros sejam garantidos.
Assim, partidos como DEM, MDB, PSDB, PSD e seus “satélites” se contentam por algum tempo com esta situação, mas precisarão (e alguns setores já começam a fazer isso) se diferenciar da extrema-direita com um discurso, perante as massas, mais “realista” e “convincente”. Movimentos feitos por personalidades políticas nesta crise, através do deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ), presidente da Câmara dos Deputados e João Doria (PSDB/SP), governador deste Estado mostram que a centro-direita não está morta neste processo e já começa a se preparar para um novo momento. Não à toa, governadores como Ronaldo Caiado, de Goiás, e o prefeito de Salvador, ACM Neto, ambos do DEM, fazem duras críticas à postura de Bolsonaro diante da pandemia do coronavírus, tendo o primeiro rompido publicamente com o presidente.
No campo da esquerda, temos duas questões a abordar. Primeiro, o setor lulo-petista que ganhou força no último período com a campanha “Lula Livre”, em razão do ocorrido com o ex-presidente. Este setor, protagonizado hoje pelo PT e PSOL, sem esquecer seus “satélites”, enfrenta uma grande crise em seu interior e, em alguns casos, demonstra não ter política alguma para a classe trabalhadora neste período histórico que vivemos. O PT, cada vez mais, se apresenta como um partido dependente de Lula e suas orientações. O PSOL demonstra, cada vez mais, que é um partido-frente, aonde suas correntes internas apresentam as “saídas” para a crise que enfrentamos, mas sem uma política determinada para o conjunto de nossa classe. Seus “satélites”, como o nome designa, ficam a reboque das orientações políticas destes.
O outro fator a abordarmos, no campo da esquerda, refere-se àqueles setores que permanecem na luta de nossa classe e não se ajustaram à institucionalidade, como fizeram PT, PSOL e seus “satélites. Por conta de sua pequena influência, a esquerda socialista de nosso país enfrenta o problema de sua pouca inserção na classe e, consequentemente, pouca intervenção no seio da classe trabalhadora de nosso país. Além disso, enfrenta um outro dilema: como permanecer com a mesma postura (e a mesma forma de organização) diante de um cenário que tende a ser cada vez mais caótico? Questões a serem debatidas (e, sobretudo, enfrentadas por estas organizações) o mais rápido possível.
Em nossa conversa mantida com o citado companheiro de luta, verificamos que podem surgir desta caracterização algumas condições possíveis. Desde o fechamento do regime até a consolidação da extrema-direita em nosso país, sem falar que o projeto reformista do setor lulo-petista tende a enfrentar mais dificuldades de aparecer como “alternativa viável” e a problemática enfrentada pela esquerda socialista diante do desafio que se apresenta para esta. Reafirmamos: são possibilidades que, conforme o nome indica, podem ou não ocorrer.
Não dá para, neste momento, “bater o martelo” em nenhum cenário que venha a se efetuar em nosso país. Como dissemos anteriormente, a dinâmica da conjuntura internacional influenciará os destinos de nosso país e de nossa classe. Daí, avaliamos que tanto pode surgir algo novo no campo de esquerda socialista como uma afirmação da extrema-direita ou, até mesmo, uma nova configuração da centro-direita. Por enquanto, são apenas possibilidades. Mas que, na nossa opinião, precisam ser avaliadas.

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