Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Para onde vai o PSOL???







Nos últimos dias, antes de todas essas polêmicas criadas em torno das aprovações (ou não) da PEC da Transição, na Câmara dos Deputados, e do Orçamento Secreto, no STF, vem ocorrendo uma outra polêmica, no campo da esquerda socialista, que definirá os rumos de um partido e de toda uma militância não apenas em 2023 - ano do 1º novo governo Lula -, mas de todo esse conjunto nos próximos anos.

Trata-se da entrada ou não do PSOL na base governista do governo Lula, a partir de janeiro de 2023.

A polêmica teve início, nos portais de notícias, com a declaração da líder do PSOL na Câmara dos Deputados, Sâmia Bomfim (SP), que afirmou que o partido deve "se manter independente durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva" para, segundo a deputada psolista, "assegurar liberdade para liderar o debate de pautas ideológicas defendidas pelo partido" (https://www.poder360.com.br/congresso/psol-nao-deve-integrar-governo-lula-diz-samia-bomfim/) ao longo desses anos especialmente no Congresso Nacional. Sâmia "esquece" que o PSOL fechou uma federação com o partido burguês Rede, bancado pelo Itaú, e que isso dificultará - e muito - a defesa dessas "pautas ideológicas" defendidas por ela e pelo partido. Na prática, Sâmia Bomfim defende que o PSOL apóie o governo Lula, mas sem integrar sua base governista.

Após esta declaração, o novo peso-pesado do PSOL e "queridinho" de Lula, Guilherme Boulos (SP), rebateu as declarações da líder do partido na Câmara dos Deputados e afirmou defender que o partido integre a base do governo Lula e não fazer oposição a este ao lado dos bolsonaristas. Para Boulos, "quem vai fazer oposição ao Lula é o bolsonarismo, e não estaremos ao lado deles", afirmou o deputado federal mais votado de São Paulo nas eleições 2022 (https://politicalivre.com.br/2022/12/boulos-rebate-samia-e-diz-que-psol-nao-fara-oposicao-a-lula-ao-lado-de-bolsonaristas/#gsc.tab=0). Ainda segundo o líder do MTST e deputado eleito, "o governo será de frente ampla, e nós temos que disputar internamente espaços para puxar a agenda do país para a esquerda", concluiu Boulos (idem). O que Boulos NÃO fala é que essa esquerda que defende que o governo Lula é de "disputa" e que tem que disputar internamente cada vez mais espaços para puxá-lo à esquerda já está perdendo este jogo, vide o avanço do "Centrão" e de sua principal liderança, Arthur Lira (PP/AL) sobre o governo, garantindo apoio do PT, PCdoB e PV à sua reeleição na Câmara dos Deputados e jogando ainda mais pesado com o governo eleito para aprovar a PEC da Transição.

Em seguida às declarações de Boulos, as deputadas do PSOL, Talíria Petrone e Erika Hiton - do Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente -, também defenderam que o partido integre a base governista do PT e de Lula a partir de 2023. Segundo Talíria Petrone, "estamos entre aqueles que defenderam que o PSOL apoiasse a candidatura de Lula desde o primeiro turno. Com o fascismo não se brinca", concluiu a deputada; já a primeira deputada federal trans do país, Erika Hilton afirmou que "o PSOL tem a responsabilidade de defender o governo Lula contra qualquer tipo de golpismo e não fará oposição ao governo", afirmou a deputada federal eleita (https://politicalivre.com.br/2022/12/taliria-petrone-e-erika-hilton-defendem-que-psol-integre-a-base-de-lula/#gsc.tab=0). Para Erika Hilton, portanto, fazer oposição ao governo Lula é ser golpista. Qualquer semelhança com a posição de Boulos sobre isso NÃO é mera coincidência, na nossa avaliação!!!


Por fim, um artigo divulgado no site "Esquerda Online" revela a posição da direção da corrente interna do PSOL, conhecida como Resistência. É o artigo "Três táticas dividem a esquerda socialista", assinado pelo professor e dirigente político Valério Arcary. Neste, Arcary afirma existir três posições dentro da esquerda socialista acerca do futuro governo Lula. De acordo com o dirigente político da Resistência, as posições se dividem entre: 1) os que defendem a participação no governo Lula, como o "PSOL Popular" -aliança entre  as correntes internas "Primavera Socialista", liderada pelo presidente nacional da legenda, Juliano Medeiros, e "Revolução Solidária", liderada por Guilherme Boulos-; 2) os que defendem a construção da oposição de esquerda, como o PSTU; 3) os que defendem "a governabilidade de Lula, preservando a independência do PSOL", posição defendida pelas correntes internas Insurgência, Subverta e Resistência, dirigida por Arcary, numa aliança entre estas chamada de "Semente do PSOL".

Resumindo a polêmica do PSOL neste momento: ao contrário do que afirma Arcary, NÃO existem três posições (ou táticas, como melhor ele classifica) da esquerda socialista em relação ao governo Lula, mas sim apenas duas: participar do governo de "frente ampla e disputar internamente os espaços" para que  este governo vá a para a esquerda, como afirma Boulos ou construir uma oposição de esquerda, como vem chamando o PSTU  e outras forças políticas deste campo a partir de janeiro de 2023, com um programa da classe trabalhadora, a começar pela revogação das "reformas" trabalhista e previdenciária, encaminhadas pelos governos Temer e Bolsonaro e que vem causando enormes prejuízos aos/às trabalhadores/as de nosso país. A posição adotada pela Resistência e correntes internas do partido aliadas a esta, expressada por Arcary, relembra os áureos tempos do PSDB, famoso por ficar "em cima do muro" e, assim, não se comprometer com ninguém naquele momento. Mas, Arcary sabe que a luta de classes cobra, ainda que num futuro distante, a conta dessa postura vacilante perante a classe trabalhadora. Ele, com formação trotskista e morenista, sabe muito bem disso.

Em tempo: a reunião do PSOL que definirá se o partido deve ou não integrar a base do governo Lula ocorrerá neste sábado, 17/12 e, na minha modesta avaliação, creio que o PSOL não apenas decidirá por integrar a base do governo Lula como também indicará nomes a alguns cargos neste governo, a começar por ministérios, Cenas dos próximos capítulos.............

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