Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

O ano em que eu vi a cara da morte e ela estava viva........




"Senhoras e senhores, trago boas novas, eu vi a cara da morte e ela estava viva, viva!!!", afirmava o grande Cazuza em uma de suas letras mais fortes, "Boas Novas". Vários anos após o saudoso poeta produzir e cantar com veemência essa canção, senti na pele (e na emoção) a força dessas palavras.
2016 é um daqueles anos que jamais iremos esquecer. Por vários motivos. 
Primeiro, pelas circunstâncias típicas desse ano inusitado para nossa classe, na qual estou inserido. Ano em que, em nosso país, enfrentamos uma crise política e econômica violentíssima, produzida e ampliada ao extremo a partir do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e ascensão à presidência da República de seu vice, Michel Temer (PMDB), e dos inúmeros escândalos e prisões dos figurões da política e do meio empresarial produzidos pela "Operação LavaJato", coordenados pela "República de Curitiba", coordenada pelo todo-poderoso juiz federal Sérgio Moro. Um ano em que assistimos ao desmoronamento eleitoral do PT ao mesmo tempo em que verificamos a vitória nas urnas da direita, capitaneada pela dupla PMDB/PSDB nos principais centros, muito embora nestes o grande expoente eleitoral tenha sido o expressivo somatório de votos nulos, brancos e abstenção que, em muitos casos, superaram a votação dos eleitos em vários locais.
Um ano em que assistimos ao crescimento da intolerância em todos os níveis, seja racial, homofóbica ou sexista, onde a violência  contra as populações de negros/as, de mulheres e LGBTs no Brasil e no mundo se banalizaram de forma assustadora e, pior, as pessoas começaram a ter espaço nas mídias sociais para expressar todo seu ódio.
2016 passa para a História como o ano em que o conflito na Síria chegou ao seu ápice, com crueldade da guerra dizimando cidades e populações civis inteiras como Aleppo e transformando esta cidade como um triste símbolo de uma guerra civil, num ano que assistiu também a vitória do ultrarreacionário Donald Trump nas eleições norteamericanas e a consolidação do regime nazista de Israel com suas eleições internas. 
Mas, 2016 também marcou pelo ressurgimento das lutas de nossa classe. Apesar dos ataques que a classe trabalhadora brasileira e mundial sofreu ao longo deste ano -em especial, a brasileira, por conta de toda essa crise político-econômica -, os/as trabalhadores/as dos vários setores da economia, conseguiram, apesar de suas direções sindicais, protagonizar momentos importantes de lutas de resistências importantes ao longo deste ano, mostrando para a elite deste país que ainda temos condições de resistir e, sobretudo, mostrando às burocracias sindicais que, ou elas vem para a luta e deixam os acordões de gabinete ou serão atropeladas pela classe.
Tudo isso ocorreu em 2016, no plano mais geral. Mas, este ano também foi um ano muito decisivo para mim, do ponto de vista particular.
Enfrentei este ano a parada mais difícil e decisiva de minha vida, até então. Em maio deste ano, me submeti a uma cirurgia cardíaca, aonde tive que implantar duas safenas e uma mamária para poder salvar minha vida de apenas 49 anos. Foi a semana mais difícil de minha vida!!!
Entre os dias 24 e 31 de maio deste ano, dia em que sofri o infarte e a data de minha cirurgia, vivi um turbilhão de sensações e emoções nunca antes vivenciada. A sensação de que minha vida estava, literalmente, por um fio, nunca esteve tão presente quanto naqueles dias. Não apenas pela gravidade da situação e da delicadeza da cirurgia a que iria me submeter, mas principalmente por algumas das coincidências que rodeavam aquele momento, que agora revelo publicamente. 
Em 1983, minha mãe. Arlete Cabral, morreu em uma sala de cirurgia, ao tentar um mesmo procedimento cirúrgico que eu iria me submeter. Ela iria implantar duas pontes de safena. Não resistiu e faleceu, em Maceió, em 04/06 daquele ano. Mesmo com os médicos e enfermeiros do Hospital Ilha do Leite, de Recife, me animando afirmando que a medicina avançou muito de lá para cá (o que é verdade, sabia e sei disso), porém não deixava de pensar nisso e em outra incrível coincidência do processo. Quando minha mãe se operou, eu tinha em 1983, na data da cirurgia, 15 anos, prestes a fazer 16 anos (faço aniversário em julho). Meu filho caçula, Arthur Lenine tem 16 anos. Essas duas coisas, toda vez que pensava nisso, faziam-me chorar muito todas as noites, na solidão da UTI, onde fiquei após o dia 25/05, quando me submeti ao cateterismo que apontou a necessidade urgente da cirurgia.
No dia mesmo da cirurgia, 31/05, não sei em que eu pensava. Sinceramente. Só comecei a pensar mais seriamente na possibilidade concreta de não mais estar aqui, entre minha família, meus filhos, quando me dirigi na maca para a sala de cirurgia e vi, na sua entrada minha companheira de tantas alegrias e batalhas, Vera Lúcia. Aí não me aguentei, comecei a chorar muito, pois senti que ali poderia ser a última vez que a veria. Como diz a letra de nosso saudoso poeta, mais uma vez, "eu vi a cara da morte e ela estava viva, viva!!!". Meus/minhas amigos/as, não é uma sensação das mais agradáveis, mas feliz ou infelizmente, precisamos às vezes passar por ela. Faz parte de nosso crescimento enquanto ser humano.
Na véspera da cirurgia, à noite, talvez tenha sido o momento mais difícil, ao dormir olhando para as fotos de meu pai e de minha mãe, pedindo proteção aos dois para aquele que seria, com certeza, o momento mais difícil e duro de minha vida. Não nego, e aproveito este espaço para revelar isso, que pedi proteção aos céus também e para todos/as que acreditam que enviassem suas energias positivas para me ajudar neste momento, Tudo estava valendo neste instante.
Passados seis meses deste momento, a recuperação segue tranquila. Já fiz vários exames e o coração tá respondendo bem, perdi 30 kg desde a cirurgia, tenho mantido o peso, preciso perder um pouco mais, sei disso, tenho mantido uma dieta equilibrada, feito caminhadas regulares, mas nada disso seria possível sem o apoio decisivo de minha família, especialmente de minha companheira Vera Lucia, e meus filhos Ana Rosa e Arthur Lenine. A eles, devo tudo isso, desde o primeiro momento de meu infarte até agora.
Este susto pelo qual passei tem servido para não apenas mudar hábitos alimentares e outros como também para modificar algumas formas de encarar a vida. Começamos a dar importância a coisas que antes passavam imperceptíveis para nós. Precisamos melhorar cada vez mais, é verdade, mas já demos os primeiros passos neste sentido. Em 2017, avançaremos mais, com certeza. Os primeiros passos já foram dados!!!

2 comentários:

  1. Para vermos a luz do sol passamos pela primeira dor da perda, saímos do lugar mais aconchegante do mundo: o útero da mãe. Assim vamos colecionando perdas e ganhos. As vitórias vêm depois das árduas batalhas. Você venceu mais essa, companheiro Radical. O Senhor da Vida deu a você e sua família mais uma oportunidade. Aproveite-a com sabedoria, cuide-se e cuide dos seus com dedicação. Nós torcemos muito pela sua recuperação plena! Abraços.
    Ah... Feliz capítulo novo!

    ResponderExcluir
  2. Para vermos a luz do sol passamos pela primeira dor da perda, saímos do lugar mais aconchegante do mundo: o útero da mãe. Assim vamos colecionando perdas e ganhos. As vitórias vêm depois das árduas batalhas. Você venceu mais essa, companheiro Radical. O Senhor da Vida deu a você e sua família mais uma oportunidade. Aproveite-a com sabedoria, cuide-se e cuide dos seus com dedicação. Nós torcemos muito pela sua recuperação plena! Abraços.
    Ah... Feliz capítulo novo!

    ResponderExcluir