Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

As várias faces do PSOL




Um partido político é, como o próprio nome diz, uma parte da sociedade que se organiza em torno de um programa que pretende promover algo para o conjunto da sociedade. Dependendo da ideologia que este partido defenda, temos partidos que se colocam no campo da direita (manutenção da ordem vigente) ou à esquerda (que defendem mudanças na ordem vigente). Dentro desses dois lados ideológicos, existem ainda algumas variantes: centro-direita, centro, centro-esquerda e por aí vai.
O que se espera de um partido político, seja qual for seu viés ideológico, é que possua COERÊNCIA. Afinal de contas, é essa coerência que garante a unidade partidária, em primeiro lugar, e ajuda a que o povo confie nessa organização partidária. Portanto, coerência partidária é um pré-requisito fundamental para qualquer partido.
O PSOL, nas atuais eleições municipais, em que pese o fato de ser um jovem partido - tem pouco mais de 7 anos de fundação - começa a demonstrar sinais vigorosos de fragilidade política e, sobretudo, de INCOERÊNCIA. Isto começa a fazer do PSOL um partido a se questionar em suas práticas e, mais ainda, na sua forma de fazer política.
Este sintoma de incoerência começou a surgir nas eleições municipais de 2008 quando a então deputada federal e candidata à Prefeitura de Porto Alegre, Luciana Genro, dirigente nacional do MES (Movimento Esquerda Socialista, corrente interna do partido), aceitou R$ 100 mil da Gerdau, um dos maiores conglomerados metalúrgicos do país. Na ocasião, o PSTU denunciou esta prática feita pelo PSOL, pois sempre defendemos a independência de classe como um de nossos princípios fundamentais. Receber dinheiro de banqueiros e empresários, para nós, compromete este princípio porque como partido de trabalhadores e juventude comprometido com a causa histórica da maior parcela de nossa população, aceitar dinheiro dos patrões e governos é descaracterizar-se como partido classista. Foi assim que o PT iniciou sua degeneração política. Quando o PSTU denunciou esta prática do PSOL em Porto Alegre, a resposta do partido foi ir à justiça eleitoral pedir a suspensão do programa eleitoral do PSTU, coisa que acabou conseguindo com direito de resposta. Até hoje, vários militantes do PSOL defendem a prática de Luciana Genro naquela eleição.
Um dos mais ardorosos defensores desta prática política era o senhor Martiniano Cavalcante (primeira foto do alto à esquerda), dirigente nacional do partido pelo MTL-GO (Movimento Terra, Trabalho e Liberdade, uma das correntes internas do partido). Nestas eleições de 2012, ele foi afastado do partido pela Executiva Nacional do PSOL por este estar sendo acusado de receber R$ 220 mil do contraventor Carlinhos Cachoeira, alvo de uma CPI no Congresso Nacional, que tem como um dos parlamentares mais atuantes o senador amapaense Randolfe Rodrigues (primeiro da parte de baixo à esquerda).
Este parlamentar lançou o candidato do PSOL em Macapá, conhecido como Clécio, que está no 2º turno naquela capital. Nesta eleição, o PSOL está recebendo o apoio do DEM e o senador Randolfe Rodrigues é um dos principais articuladores deste apoio do partido que é o herdeiro natural da antiga ARENA, partido que era o braço político da ditadura militar.
Pertinho de Macapá, o PSOL também conseguiu chegar ao 2º turno, com Edmilson Rodrigues (centro do alto da foto), em Belém do Pará. Neste caso, isso se deu através da construção de aliança que envolveu PSOL/PSTU/PCdoB, sendo que na proporcional a aliança foi entre PSOL/PSTU. A formação desta aliança foi combatida pelo PSTU desde o início e durante toda a campanha (maiores informações sobre isso, é só consultar o site do partido - www.pstu.org.br-). Agora, no 2º turno, o PSOL decidiu aceitar o apoio de Lula e Dilma, encarando isso também como algo natural. Com isso, o PSTU decidiu romper com a Frente, mas chamando o voto crítico em Edmilson (também no site do PSTU, vocês podem conferir a nota do partido sobre isso).
Como se tudo isso não bastasse, de São Paulo veio mais uma bomba do PSOL: a declaração de Plínio Arruda Sampaio, ex-candidato à presidente pelo partido em 2010, de que Serra (PSDB) é "competente" e que faria melhor por São Paulo do que Haddad, provocou (e ainda está provocando) muito rebuliço em toda a esquerda socialista. Afinal, Plínio é um dos baluartes da esquerda socialista e esta declaração decepcionou muita gente.
Por fim, chegamos à Paraíba. Em João Pessoa e em Campina Grande, o PSOL apresenta-se neste 2º turno com duas posições diametralmente opostas. Em João Pessoa, Renan Palmeira (centro da foto na parte baixa desta), anunciou neutralidade nesta fase da campanha enquanto Sizenando Leal (à direita na parte de baixo da foto) anunciou voto nulo na "Rainha da Borborema".
O que faz um partido ser tão diferente em nosso país? No norte, apoios do DEM e de Lula e Dilma; em São Paulo, declarações de afeto a Serra; em Goiás, dirigente nacional acusado de participar do esquema de Carlinhos Cachoeira; no RS, apoio financeiro da Gerdau em 2008; e, finalmente, na Paraíba, nas duas principais cidades do Estado, duas posições opostas: neutralidade em João Pessoa e voto nulo em Campina Grande. Qual a razão de tudo isso?
Na nossa modesta avaliação, isso se deve à forma de organização do PSOL, que permite que as correntes políticas internas do partido construam suas políticas independente da postura decidida pelas instâncias da organização partidária, além de suas figuras públicas poderem expressar publicamente suas opiniões sem prestar conta disso ao partido. Em João Pessoa, por exemplo, antes que o partido definisse sua posição oficial, o candidato a vereador Marcos Dias e o candidato a prefeito, Renan Palmeira, já tinham ido à imprensa publicizar suas opiniões pessoais. O primeiro defendendo o apoio do partido ao candidato do PT, Luciano Cartaxo, enquanto o segundo defendia a neutralidade. É por isso que o PSOL tem essas diferentes posições em todo o país nas eleições municipais.
Quero afirmar que não há nenhum problema em que as figuras públicas do PSOL ou de qualquer outra organização partidária tenham suas opiniões sobre qualquer assunto. Apenas acredito que, exatamente por serem figuras públicas, deveriam ter mais cuidado em expor suas posições pois isso gera confusão na cabeça das pessoas e acaba promovendo descrédito de nossa classe em relação à forma correta de se fazer política. Não custa lembrar que esse tipo de comportamento foi o detonador da degeneração política do PT, PCdoB e tantos outros.
A História já mostrou, por mais de uma vez, que um partido precisa ter um lado, seja ele qual for. Partido com várias faces costuma não ter vida longa. Se tiver, será de qualquer lado, menos dos trabalhadores.
PS: Só uma opinião sobre essas várias faces do PSOL. De todas elas, a mais coerente, em nossa avaliação, é do companheiro Sizenando Leal, de Campina Grande. Na disputa entre os candidatos das oligarquias paraibanas, representadas pelo PSDB e PMDB, O PSOL de Campina Grande decidiu convocar nossa classe a VOTAR NULO no 2º turno. Essa é uma posição classista, ao contrário de posições como neutralidade ou contar com apoio de Lula, Dilma, DEM e PSDB.             

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