Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Uma explicação para a renúncia de Bento XVI


       



O mundo foi pego de surpresa nesta segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013, quando do anúncio da renúncia do papa Bento XVI de seu pontificado. Afinal, desde Gregório XII, em 1415, não havia a renúncia de um papa de seu trabalho clerical. Na era moderna, então, Bento XVI inaugura um novo momento na história da Igreja Católica.
O anúncio de sua renúncia se dá, segundo palavras do próprio Joseph Ratzinger (Bento XVI), por conta de “que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino”, segundo um trecho da carta lida pelo papa renunciante durante reunião com cardeais no Vaticano.
Quando assumiu o comando da Igreja Católica, em 2005, Bento XVI tinha o papel de ser um papa de transição. A Igreja Católica vivia um período difícil, com a perda de um papa de grande prestígio popular e que foi, ao longo de seu papado, um grande colaborador do imperialismo e do regime capitalista na destruição dos regimes do Leste Europeu e também da afirmação do Estado de Israel como fiel aliado dos países imperialistas no Oriente Médio. Além disso, João Paulo II foi fundamental na desarticulação, dentro das fronteiras do catolicismo, dos defensores da “Teologia da Libertação”, ao mesmo tempo que dava condições para que os carismáticos crescessem às custas da “Teologia da Prosperidade”. Tudo para combater o crescimento das igrejas consideradas evangélicas que, especialmente na América Latina, e do islamismo, na Europa, África e EUA, ameaçavam (e ainda ameaçam) a hegemonia da Igreja Católica.
Bento XVI vem, então, para ser esse papa de transição para tentar reafirmar o catolicismo como a religião mais importante do planeta e com maior número de fiéis. Porém, em pouco mais de 7 anos de pontificado, Bento XVI não conseguiu nem uma coisa nem outra. Pelo contrário. A Igreja Católica até pode continuar sendo a religião mais importante do planeta, mas o número de fiéis vem caindo a cada ano que passa em várias partes do mundo.
Peguemos o Brasil, por exemplo. Em nosso país, ao longo dos anos, a Igreja Católica continua sendo majoritária em nossa sociedade, mas tem perdido espaço para o segmento evangélico de forma crescente. O Censo 2010 do IBGE mostra bem essa evolução deste segmento em relação ao catolicismo. Mas não apenas deste segmento religioso. Surpreendentemente, o segmento religioso que mais cresceu foi o dos “sem religião”, com 8% da população nacional.
Pegando os últimos 50 anos até 2010, o que se verifica é que, apesar do catolicismo continuar sendo majoritário entre as religiões no Brasil (que é, reconhecidamente, um dos maiores países católicos do mundo), a sua maioria vem caindo ao longo dos anos em relação aos outros segmentos religiosos, especialmente os evangélicos. Por exemplo, em 1960, os católicos eram 93,1% da população brasileira, enquanto os evangélicos eram apenas 4% no mesmo período; 50 anos depois, os católicos são 64,6% de nossa população e os evangélicos são 22,2%. Ou seja, em cinco décadas, os católicos reduziram 28,5% de seus fiéis, enquanto os evangélicos cresceram mais de 5 vezes. Isso sem pegarmos o segmento dos pentecostais e neopentescostais.
Bento XVI não conseguiu, no seu curto papado, apesar do seu discurso extremamente conservador, em defesa das tradições da Igreja, fazer com que esta arrebanhasse mais fiéis. Ao contrário, a Igreja Católica, enfrentou inúmeros processos na justiça comum por causa de vários casos de pedofilia praticados por seus membros, especialmente nos EUA, mas que também ocorreram no Brasil. Além disso, foi no papado de Bento XVI que a Igreja Católica enfrentou vários protestos, como o do movimento de mulheres e LGBT’s, por conta de seus posicionamentos reacionários contrários ao aborto, à possibilidade de ascensão das mulheres no interior da Igreja e ao casamento homoafetivo. Paralelo a isso, assistimos neste período ao crescimento do ramo chamado evangélico, especialmente do setor pentecostal, sobretudo nas áreas mais pobres do planeta, como América Latina, África e Ásia. E a porção de fiéis arrebanhados por estas igrejas veio sobretudo da Igreja Católica, que a olhos vistos perdeu muitos seguidores. Isto, apesar desta ter assumido um discurso semelhante ao pregado pelas “Universais” da vida. Porém, uma coisa é o original, outra é a cópia.
O concreto é que a renúncia de Bento XVI se deve, em nossa modesta opinião, a uma crise que existe na Igreja Católica que ele, enquanto papa transitório, se dispôs a enfrentar e não conseguiu resolver, nem que minimamente: a perda constante e acelerada de fiéis para outras religiões. A tarefa do novo papa é construir uma política que impeça, ou pelo menos, reduza essa sangria que o catolicismo vem sofrendo há décadas, sobretudo em países centrais de sua religião, como o Brasil, como já demonstramos nesse artigo. Mas, a estrutura milenar da Igreja Católica pode ser um empecilho muito grande para esse sucessor de Bento XVI, isso se esse estiver disposto a enfrentar essa estrutura, o que duvido muito.
Já começam a surgir comentários de analistas que acompanham o desenrolar da política do Vaticano que a Igreja Católica precisa, com o novo papa, se renovar no discurso e na prática. O problema é de que forma isso se dará. Porque a única novidade nos últimos dois mil anos no catolicismo foi a Teologia da Libertação, que foi duramente reprimida no papado de João Paulo II, ao ponto de seu principal teólogo, o brasileiro frei Leonardo Boff ter sido calado por determinação do Vaticano para todo o sempre. Assim, fica difícil imaginarmos algum avanço com o novo papa que vem, seja ele europeu ou não.
Segundo outros analistas, a renúncia de Bento XVI assume ares de “guerra civil” na disputa pelo poder no Vaticano. Segundo um dos maiores estudiosos do Vaticano, Massimo Franco, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres, autor do premiado "Era uma Vez um Vaticano", a renúncia do papa seria “o sintoma extremo, final, irrevogável, da crise de um sistema de governo e de uma forma de papado”. O editorial do prestigiado jornal italiano, “Corriere della Sera”, assinado pelo seu diretor, Ferruccio de Bortoli, o gesto de Bento XVI “foi certamente encorajado pela insensibilidade de uma cúria que, em vez de confortá-lo e apoiá-lo, apareceu, por diversos de seus expoentes, mais empenhada em jogos de poder e lutas fratricidas”. Como se vê, a crise é muito maior do que pensamos e não é só em Brasília e no Brasil que a política é suja e nociva aos interesses do povo.

1 comentários:

  1. E ai Radical! Estou passando aqui para divulgar meu blog sobre futebol. Tô iniciando agora. Passa lá para dá uma olhada. Já tô seguindo seu blog. Me segue lá tb pô para ajudar a divulgar.
    Valeu!!!

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