O mundo foi pego de
surpresa nesta segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013, quando do anúncio da
renúncia do papa Bento XVI de seu pontificado. Afinal, desde Gregório XII, em
1415, não havia a renúncia de um papa de seu trabalho clerical. Na era moderna,
então, Bento XVI inaugura um novo momento na história da Igreja Católica.
O anúncio de sua renúncia se dá, segundo palavras do próprio
Joseph Ratzinger (Bento XVI), por conta de “que
as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer
adequadamente o ministério petrino”, segundo um trecho da carta lida pelo papa
renunciante durante reunião com cardeais no Vaticano.
Quando assumiu o comando da Igreja
Católica, em 2005, Bento XVI tinha o papel de ser um papa de transição. A
Igreja Católica vivia um período difícil, com a perda de um papa de grande
prestígio popular e que foi, ao longo de seu papado, um grande colaborador do
imperialismo e do regime capitalista na destruição dos regimes do Leste Europeu
e também da afirmação do Estado de Israel como fiel aliado dos países
imperialistas no Oriente Médio. Além disso, João Paulo II foi fundamental na
desarticulação, dentro das fronteiras do catolicismo, dos defensores da
“Teologia da Libertação”, ao mesmo tempo que dava condições para que os
carismáticos crescessem às custas da “Teologia da Prosperidade”. Tudo para
combater o crescimento das igrejas consideradas evangélicas que, especialmente
na América Latina, e do islamismo, na Europa, África e EUA, ameaçavam (e ainda
ameaçam) a hegemonia da Igreja Católica.
Bento XVI vem, então, para ser esse papa
de transição para tentar reafirmar o catolicismo como a religião mais
importante do planeta e com maior número de fiéis. Porém, em pouco mais de 7
anos de pontificado, Bento XVI não conseguiu nem uma coisa nem outra. Pelo
contrário. A Igreja Católica até pode continuar sendo a religião mais
importante do planeta, mas o número de fiéis vem caindo a cada ano que passa em
várias partes do mundo.
Peguemos o Brasil, por exemplo. Em nosso país, ao longo dos
anos, a Igreja Católica continua sendo majoritária em nossa sociedade, mas tem
perdido espaço para o segmento evangélico de forma crescente. O Censo 2010 do
IBGE mostra bem essa evolução deste segmento em relação ao catolicismo. Mas não
apenas deste segmento religioso. Surpreendentemente, o segmento religioso que
mais cresceu foi o dos “sem religião”, com 8% da população nacional.
Pegando os últimos 50 anos até 2010, o que se verifica é que,
apesar do catolicismo continuar sendo majoritário entre as religiões no Brasil
(que é, reconhecidamente, um dos maiores países católicos do mundo), a sua
maioria vem caindo ao longo dos anos em relação aos outros segmentos
religiosos, especialmente os evangélicos. Por exemplo, em 1960, os católicos
eram 93,1% da população brasileira, enquanto os evangélicos eram apenas 4% no
mesmo período; 50 anos depois, os católicos são 64,6% de nossa população e os
evangélicos são 22,2%. Ou seja, em cinco décadas, os católicos reduziram 28,5%
de seus fiéis, enquanto os evangélicos cresceram mais de 5 vezes. Isso sem
pegarmos o segmento dos pentecostais e neopentescostais.
Bento XVI não conseguiu, no seu curto papado, apesar do seu
discurso extremamente conservador, em defesa das tradições da Igreja, fazer com
que esta arrebanhasse mais fiéis. Ao contrário, a Igreja Católica, enfrentou
inúmeros processos na justiça comum por causa de vários casos de pedofilia
praticados por seus membros, especialmente nos EUA, mas que também ocorreram no
Brasil. Além disso, foi no papado de Bento XVI que a Igreja Católica enfrentou
vários protestos, como o do movimento de mulheres e LGBT’s, por conta de seus
posicionamentos reacionários contrários ao aborto, à possibilidade de ascensão
das mulheres no interior da Igreja e ao casamento homoafetivo. Paralelo a isso,
assistimos neste período ao crescimento do ramo chamado evangélico,
especialmente do setor pentecostal, sobretudo nas áreas mais pobres do planeta,
como América Latina, África e Ásia. E a porção de fiéis arrebanhados por estas
igrejas veio sobretudo da Igreja Católica, que a olhos vistos perdeu muitos
seguidores. Isto, apesar desta ter assumido um discurso semelhante ao pregado
pelas “Universais” da vida. Porém, uma coisa é o original, outra é a cópia.
O concreto é que a renúncia de Bento XVI se deve, em nossa
modesta opinião, a uma crise que existe na Igreja Católica que ele, enquanto
papa transitório, se dispôs a enfrentar e não conseguiu resolver, nem que
minimamente: a perda constante e acelerada de fiéis para outras religiões. A
tarefa do novo papa é construir uma política que impeça, ou pelo menos, reduza
essa sangria que o catolicismo vem sofrendo há décadas, sobretudo em países
centrais de sua religião, como o Brasil, como já demonstramos nesse artigo.
Mas, a estrutura milenar da Igreja Católica pode ser um empecilho muito grande
para esse sucessor de Bento XVI, isso se esse estiver disposto a enfrentar essa
estrutura, o que duvido muito.
Já começam a surgir comentários de analistas que acompanham o
desenrolar da política do Vaticano que a Igreja Católica precisa, com o novo
papa, se renovar no discurso e na prática. O problema é de que forma isso se
dará. Porque a única novidade nos últimos dois mil anos no catolicismo foi a
Teologia da Libertação, que foi duramente reprimida no papado de João Paulo II,
ao ponto de seu principal teólogo, o brasileiro frei Leonardo Boff ter sido
calado por determinação do Vaticano para todo o sempre. Assim, fica difícil
imaginarmos algum avanço com o novo papa que vem, seja ele europeu ou não.
Segundo outros analistas, a renúncia de Bento XVI assume ares
de “guerra civil” na disputa pelo poder no Vaticano. Segundo um dos maiores
estudiosos do Vaticano, Massimo Franco, do Instituto
Internacional de Estudos Estratégicos de Londres, autor do premiado "Era
uma Vez um Vaticano", a renúncia do papa seria “o sintoma extremo, final,
irrevogável, da crise de um sistema de governo e de uma forma de papado”. O editorial do prestigiado
jornal italiano, “Corriere della Sera”, assinado pelo seu diretor, Ferruccio de
Bortoli, o gesto de Bento XVI “foi certamente encorajado pela insensibilidade
de uma cúria que, em vez de confortá-lo e apoiá-lo, apareceu, por diversos de
seus expoentes, mais empenhada em jogos de poder e lutas fratricidas”. Como se
vê, a crise é muito maior do que pensamos e não é só em Brasília e no Brasil
que a política é suja e nociva aos interesses do povo.
E ai Radical! Estou passando aqui para divulgar meu blog sobre futebol. Tô iniciando agora. Passa lá para dá uma olhada. Já tô seguindo seu blog. Me segue lá tb pô para ajudar a divulgar.
ResponderExcluirValeu!!!