Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Era uma vez...

Era uma vez, num reino muito distante, de nome Vera Cruz, havia um povo honesto, trabalhador e muito paciente. Porém, era um povo que, apesar da paciência, não tinha nada de tolo, apesar de aparentar. Este povo habitava a província de Calcas.
Era um povo que havia muitos anos havia se deixado dominar por uma série de grupos familiares que se revezavam no poder há anos, sempre prometendo para este melhores dias de vida que nunca chegavam, a não ser para os familiares destes. No entanto, as poucas migalhas destinadas ao paciente povo de Calcas bastavam para manter a normalidade da província.
Eis que, depois de anos e anos de domínio dos diversos grupos familiares dominando a cena política da província de Calcas, surge para o honesto, trabalhador e paciente povo desta a oportunidade de mudança há tempos esperada, na figura de um homem formado pelo povo calcaense. Um homem surgido do meio do povo, experimentado nas lutas desse povo trabalhador.
Assim, a imensa maioria do povo de Calcas apostou todas as suas fichas neste seu filho. E o escolheu como seu novo condutor para sua província. Havia alguns na província que não o viam com bons olhos, mas eram muito poucos, a imensa maioria estava com ele, acreditava nele, tinha certeza que ele o tiraria do atraso secular que estavam colocados. Seu nome: Salvador Justo.
O povo de Calcas foi todo à praça pública assistir a posse do novo Capitão Real de Calcas. Este era o nome do título do governante da província de Calcas, abaixo apenas do rei de Vera Cruz. Inclusive sua posse foi presenciada pelo rei de Vera Cruz, Cássio Madeira. Não era simplesmente uma posse. Era, na verdade, um novo capítulo na história de Calcas. Na cabeça do povo honesto, trabalhador e paciente de Calcas, era a presença dele mesmo na condução da província de Calcas pela primeira vez na história desta. A partir de agora, pensavam todos, as coisas seriam diferentes.
E como realmente foram diferentes! A partir do instante em que começou a governar, Salvador Justo começou a mostrar como era "amigo" do povo honesto, trabalhador e paciente da província de Calcas.
Pra começar, foi logo perseguindo o corpo da guarda palaciana, atacando seus direitos mais elementares, como negando a esta melhorias salariais e perseguindo duramente as principais lideranças deste segmento. Em seguida, negou-se a pagar um salário justo - como diz seu próprio nome - aos educadores e educadoras do reino e, por fim, demitiu todas as parteiras da província, passando a contar com o serviço de profissionais desse ramo do reino vizinho, Dardano.
Agora, o povo honesto, trabalhador e paciente da província de Calcas se vê diante de mais um fato espantoso promovido pelo rei Salvador Justo, aquele que veio desse mesmo povo honesto, trabalhador e paciente.       
O Capitão Real da província de Calcas decidiu anunciar aos quatro cantos que irá realizar um negócio envolvendo um terreno de propriedade da província - portanto, do povo honesto, trabalhador e paciente de Calcas - para um próspero comerciante da província, chamado Ricardo Valparaíso, que tem um projeto ambicioso de construir um grande centro de lojas comerciais no distrito mais populoso de Calcas, de nome Laranjeira.
Boa parte do povo honesto, trabalhador e paciente de Calcas ficou estupefato diante da atitude de Salvador Justo de decidir dar de mão beijada, como se diz no popular, uma propriedade pública para uma pessoa física sem nem menos dar oportunidade a outros terem a oportunidade de também disputarem o mesmo direito. Afinal de contas, não foi esse Salvador Justo que eles conheceram quando este estava do lado deles anos atrás, lutando pelos seus direitos, comendo pão com mortadela e bebendo caldo de cana no meio da rua. Decididamente, esse não era o Salvador Justo que eles conheceram nos tempos de vacas magras. 
Porém, nem todos em Calcas perceberam a real cara de Salvador Justo. Ainda tem gente que acredita em Salvador Justo. Ainda acham que ele está fazendo a coisa certa, que ele vai fazer de Calcas uma província melhor pra se viver, que vai desenvolver esta terra e fazer dela uma província mais moderna. Para estes, o melhor remédio chama-se TEMPO.


PS: Qualquer semelhança com a realidade de algum Estado brasileiro NÃO é mera coincidência!

1 comentários:

  1. Certamente um das mais belas crônicas que li desde muito tempo! Lamentavelmente, realmente a desilusão parece nunca parar de insististir em permanecer na história desse povo honesto.

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