Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Algumas considerações acerca das retiradas (e derrubadas) de estátuas no mundo



Na esteira dos atos e manifestações que ocorrem nos EUA e em várias partes do mundo, após o brutal assassinato do negro americano George Floyd por um policial branco, em 25 de maio deste ano, em Minneapolis, tem havido uma série de acontecimentos que podemos classificar como progressivos, do ponto de vista político e que merecem uma boa discussão historiográfica: a retirada (ou derrubada) de monumentos históricos (em sua maioria, estátuas) de personagens que tiveram relações com a escravidão ou com regimes autoritários ao longo da História.
Isso já havia ocorrido anos atrás nos EUA, quando da luta contra o racismo e a violência policial (as mesmas razões desta luta atual) por conta de uma outra ação da polícia norte-americana e algumas estátuas de líderes confederados daquele país, que lideraram os chamados Estados Confederados da Guerra Civil norte-americana, que apoiavam abertamente a escravidão naquele país, foram derrubadas pelas pessoas. Isso causou ampla repercussão na sociedade daquele país, mas não da forma como atualmente.
Agora, com a profunda repercussão dos acontecimentos registrados a partir do assassinato de Floyd e, a partir de então, com os sucessivos atos ocorridos no coração do império e também em outras partes do mundo, começaram a se verificar também cenas desta mesma natureza anterior, nos EUA e no mundo. 
Em Bristol, na Inglaterra, manifestantes arrancaram do pedestal a estátua que homenageava o traficante de escravos Edward Colston e a jogaram no rio da cidade. Posteriormente, esta foi retirada deste rio pelas autoridades locais e levada para um "lugar seguro", segundo estas mesmas autoridades, conforme a matéria (https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/06/11/estatua-de-traficante-de-escravos-e-retirada-do-rio-no-inglaterra.htm).
Em Boston, nos EUA, a estátua de Cristóvão Colombo, considerado o "descobridor das Américas", foi decapitada em 09 de junho deste ano por ser considerado "um dos responsáveis pelo genocídio indígena" no continente (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2020/06/10/estatua-de-cristovao-colombo-e-decapitada-em-boston.htm).
Em Richmond, capital da Virgínia, nos EUA, a estátua de Jefferson Davis, presidente da Confederação dos Estados da América durante a Guerra Civil Americana, foi derrubada na noite de 10 de junho deste ano (https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/06/11/estatua-de-jefferson-davis-e-derrubada-nos-eua.htm). Virgínia era o Estado aonde situava-se a sede dos Estados Confederados durante a Guerra Civil.
Em Poole, na Inglaterra, há um intenso debate acerca da retirada ou não da estátua do fundador do escotismo, Robert Baden-Powell. Isso porque associações criticam este por apoiarem, com citações explícitas em seu diário pessoal, o fundador do nazismo, Adolf Hitler (https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/06/11/estatua-de-fundador-dos-escoteiros-deve-ser-derrubada-na-inglaterra.htm).
As estátuas do rei Leopoldo II, da Bélgica e de Robert Milligan, foram retiradas na Antuérpia e Londres, respectivamente. Leopoldo II foi responsável pela morte de milhões de africanos na colonização do Congo, considerado como território privado do rei de 1877 a 1908. Sua "brutalidade na exploração do trabalho de africanos na extração de borracha e marfim foi exposta na imprensa mundial. Já Robert Milligan era um comerciante de escravos. Chegou a possuir 526 escravos em suas duas plantações de açúcar, na Jamaica" (https://www.poder360.com.br/internacional/estatuas-ligadas-a-racistas-sao-removidas-na-europa-depois-de-manifestacoes/).
Tais notícias, como afirmei anteriormente, denotam uma boa discussão política e historiográfica acerca da questão. Sobre a questão historiográfica, temos um ponto a colocar. Embora as razões apontadas para as atitudes tomadas para tais atos, entendíveis por demais, mas a simples retirada (ou derrubada) de tais monumentos históricos não são por mim compreensíveis. Isto por que entendo que é preciso preservar a memória histórica, apesar de não possuir concordância com vários personagens históricos, como alguns dos citados neste texto.
Para ficar bem claro: apesar de não possuir nenhum acordo com a escravidão, com os abusos cometidos em nome desta ou em nome da colonização ou, ainda, em nome do nazismo (ou de qualquer regime autoritário/ditatorial), acredito ser importante que se preservem registros históricos acerca destes fatos ocorridos em nossa História para que toda uma geração possa tomar conhecimento de tais ocorridos, como forma da memória histórica acima referida.
Evidentemente, este é um bom debate a ser feito em torno a esta questão. E, mais uma vez, tais considerações merecem todo e qualquer argumento a ser feito. Uma discussão em aberto.
Do ponto de vista político, é um movimento progressivo, pois abre um questionamento à ordem estabelecida, tanto dentro quanto fora dos EUA. Tanto dentro quanto fora do coração do império, portanto. Como vem ocorrendo em vários momentos desde que "explodiram" os atos e manifestações contra o racismo e a violência policial após o assassinato de George Floyd, a discussão sobre o socialismo e sua necessidade com mais esta crise vivida com o capitalismo e sua repercussão diante da nossa classe e suas desventuras sofridas por esta diante de tudo isso com mais esta pandemia, com mais este elemento que vem a se somar a tantos outros elementos que o capitalismo proporciona para aumentar as agruras que este regime cria para aprofundar a miséria que este causa à nossa classe.
Portanto, a progressividade destes atos que vem ocorrendo nos EUA e na Europa, com as estátuas de "homenageados" simbolizando a escravidão, o racismo, regimes autoritários ou coisas do tipo, precisa de algo mais que a simples retirada ou derrubada de estátuas. É preciso questionar o regime político que sustenta a ideia da exploração capitalista, que também sustentava a escravidão, o colonialismo, o nazismo ou qualquer outro regime autoritário. Questionar o regime capitalista, o "Estado Democrático de Direito" (que preserva a propriedade privada), que é a fonte da exploração e opressão existente na sociedade que vivemos, é fundamental para superarmos o momento que estamos.
Sem questionarmos isto, sem questionarmos o capitalismo que explora e oprime nossos povos, a retirada e derrubada de estátuas de exploradores e opressores em todo o mundo, infelizmente, ficará apenas nisso. A progressividade de tais atos não avançará e se limitará a tais fatos. É preciso ir além.  
Construir o socialismo, um governo socialista dos trabalhadores, apoiado nos Conselhos Populares. Eis a alternativa de nossa classe para superar o capitalismo!!!

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