Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

CUT e CSP Conlutas: uma comparação de seus princípios fundacionais





O movimento operário surgiu no século XIX, na Inglaterra, por conta da extrema necessidade da classe trabalhadora se organizar e lutar contra a exploração e, consequentemente, as injustiças promovidas pelos patrões e o capitalismo em geral, ainda no seu nascedouro. Diversas maneiras de organização foram criadas pelos trabalhadores para lutarem por seus direitos e muitas foram suas reivindicações e formas de luta, desde esta época.
No Brasil, embora isto tenha se dado de forma um pouco tardia - final do século XIX  e início do século XX -, tal luta da classe trabalhadora também é recheada de acontecimentos, lideranças e, sobretudo, inúmeras organizações de classe surgidas desde então.
Em agosto de 1981, ainda durante a ditadura militar no Brasil, ocorreu a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora - CONCLAT -, na Praia Grande (SP). Tal evento reuniu a vanguarda do movimento operário brasileiro da época, juntando num mesmo local os velhos militantes do movimento operário (tachados como os pelegos do movimento) e a nova vanguarda que surgia, por conta das recentes greves que ocorriam no ABC paulista, em especial dos metalúrgicos, espalhando-se por todo o país, no que ficou conhecido como o "novo sindicalismo". Destas lutas, surgiram lideranças como Lula, por exemplo.
Em agosto de 1983, foi fundada a CUT. Num outro CONCLAT - Congresso Nacional da Classe Trabalhadora -, os dissidentes da CONCLAT de dois anos antes fundaram a Central Única dos Trabalhadores (CUT), promovendo a partir de então uma grande transformação no mundo sindical no Brasil. Tal central foi criada para dar uma resposta política aos pelegos que construíram a CONCLAT de 1981, com os quais não se tinha nenhum acordo político-programático naquele momento.
Em 2004, começou a ocorrer uma nova modificação no movimento operário brasileiro. Pouco mais de um ano após a chegada de Lula e do PT ao governo federal, trabalhadores/as de todo o país reuniram-se num Encontro Nacional de Trabalhadores, em Luziânia/GO e, ao final de muita discussão política, uma parte decidiu construir a CONLUTAS - Coordenação Nacional de Lutas -, como resposta aos ataques promovidos à nossa classe pelo governo Lula, a começar da "reforma da previdência" feita pelo governo petista na ocasião.
Dois anos depois deste encontro de trabalhadores/as, ocorreu o Congresso de Fundação da Conlutas, em Betim/MG. Da fundação da CUT até a criação da Conlutas, passarem-se 23 anos entre um evento e outro e, neste período, havíamos passado por uma ditadura militar, um governo de redemocratização política (Sarney), dois governos neoliberais - Collor e FHC -, cada um a seu modo, mas idênticos em atacar a classe trabalhadora nacional e vivíamos uma experiência inédita no país, com um partido vindo do movimento operário (PT) e sua principal liderança política - Lula -, ocupando o poder central em nosso país. Infelizmente, a experiência com este governo decepcionou a muitos milhares de trabalhadores/as, desde aquela época. Daí a razão do surgimento da Conlutas.
Em 2010, ocorreu um novo CONCLAT, desta vez em Santos/SP. O Congresso da Classe Trabalhadora aconteceu nos dias 5 e 6/06 daquele ano e, ao seu final, criou a CSP Conlutas (Central Sindical e Popular - Conlutas). Tal encontro foi puxado por 6 organizações sindicais na época - Conlutas, Intersindical, MTL, MTST, Pastoral Operária e Coletivo Prestista). Várias foram as avaliações acerca da criação desta nova central, mas uma queremos destacar: a de Júlio Turra, da CUT e da corrente petista (autodesignada como trotskista) "O Trabalho", aonde este classifica o Conclat de Santos como um "fiasco". A História mostra outra coisa, bem distinta desta avaliação.
Queremos, neste artigo, destacar apenas os princípios fundacionais da CUT e da CSP Conlutas. Alguns destes princípios são idênticos. O que vai diferenciar as duas centrais diz respeito ao seu caráter e à sua prática no cotidiano da classe trabalhadora. Quanto ao primeiro ponto, é fácil distinguir as duas organizações. Enquanto a CUT trata-se apenas de se constituir como uma central de trabalhadores (portanto, aqueles/as filiados aos sindicatos ligados a ela), a CSP Conlutas busca construir-se como uma central não apenas sindical, representativa dos/as trabalhadores/as filiados aos sindicatos ligados à central, mas também trata de organizar outros movimentos, que assim como o sindical, são profundamente atingidos pela lógica capitalista de destruir nossa classe. Assim, a CSP Conlutas também reúne, em seu interior, movimentos de luta contra as opressões (mulheres, negros/as e LGBT's), trabalhadores/as do campo, sem teto, desempregados/as e estudantes. Todos estes setores devidamente representados na central, desde a Coordenação Nacional (que se reúne a cada dois meses), passando pela Executiva Nacional (também chamada de SEN), chegando até aos estados aonde está organizada. O segundo ponto que apontamos aqui quanto diferenças essenciais entre as duas centrais, queremos deixar isto ao gosto de cada um/a.
A CUT se construiu baseada em 7 princípios fundamentais, na sua gênese. São eles: independência de classe, mobilização e luta da categoria (ou ação direta), democracia operária, autonomia frente aos partidos, colocar toda a estrutura sindical a serviço das OLT's (organizações por locais de trabalho), combinar luta econômica com luta pelo socialismo e a defesa do internacionalismo proletário.
A CSP Conlutas, em seu estatuto, expõe também 7 princípios na sua fundação. São idênticos à CUT os quatro primeiros princípios (independência de classe, mobilização e luta da categoria - ou ação direta -, democracia operária, autonomia frente aos partidos) mais a defesa do internacionalismo proletário. A defesa da união da luta econômica com a luta pelo socialismo e a defesa das OLT's está presente ao longo do estatuto da central e da prática da central e seus sindicatos.
Os pontos idênticos entre as duas centrais, apesar do espaço de tempo entre a criação das duas organizações, revela  a continuidade das lutas da classe trabalhadora brasileira, apesar das divergências existentes entre as duas no tocante à análise das conjunturas nacional e internacional e a consequente política adotada por cada uma na superação (por parte da classe) destes problemas, sem falar nas mudanças conjunturais ocorridas no período. Os dois outros pontos de princípios são substituídos, pela CSP Conlutas, pela defesa da autonomia das entidades de base filiadas à central e a construção da unidade, como valor estratégico, na luta dos/as trabalhadores/as.
Em tempos de Bolsonaro, o princípio fundacional da CSP Conlutas, de construção da unidade, como valor estratégico, na luta dos/as trabalhadores/as permanece atual (mais do que nunca) e de fundamental importância para resistirmos, enquanto classe, aos ataques vindos dos governos (nacional, estadual e municipal) e dos patrões.

0 comentários:

Postar um comentário