Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

domingo, 24 de novembro de 2019

De VIRADA é mais GOSTOSO. MENGÃO BICAMPEÃO DA LIBERTADORES!!!




Neste sábado, 23 de novembro de 2019, o Flamengo conseguiu tornar-se BICAMPEÃO da Libertadores da América, após derrotar, de virada, o então campeão da Libertadores e forte time argentino do River Plate, na final disputada em Lima, no Peru, em jogo único, uma novidade implantada pela Conmebol este ano na competição sul-americana. Após 38 anos de espera, o rubro-negro carioca reconquista o torneio mais importante da América do Sul, com um técnico estrangeiro no comando, o português Jorge Jesus. Mas, vamos aqui, rememorar algumas coisas do 1º título da Libertadores conquistado pelo Mengão, em 1981, e tentar fazer algumas comparações com o título deste ano.
Uma coisa já chama a atenção nas duas conquistas: ambas ocorreram na mesma data, 23 de novembro. De 1981 e 2019, respectivamente. Outra coisa coincidente: ambas foram fora de casa: a primeira em Montevidéu, no Uruguai, e agora em Lima, no Peru. Em 1981, eu contava com 14 anos de idade e, infelizmente, havia perdido meu pai alguns meses antes. Ele era vascaíno e não sei dizer, sinceramente, qual seria seu comportamento numa final como aquela. Porém, minha mãe era rubro-negra doente e estava conosco nesta torcida. Também, neste ano, muitas coisas aconteciam pelo mundo. Nos EUA e Reino Unido, por exemplo, Reagan e Thatcher começavam a implementar um novo modelo econômico que vigoraria por muitos anos (e de certa forma, ainda vigora em muitos países, com algumas de suas ideias principais, como a do "Estado mínimo), o neoliberalismo.  Modelo este que chegaria com força em nosso país nos anos 90, a partir do governo Collor que, se não conseguiu implantá-lo como gostaria, deu as bases para que os próximos governos assim o fizessem. FHC, durante 8 anos, foi um de seus mais fiéis seguidores, para citar apenas o mais emblemático, no campo da "direita liberal" de nosso país. Existiram outros, como o governo Lula que, apesar de não parecer, continuou implementando algumas de suas premissas impostas por FHC em seu governo. 
Ainda havia a "Guerra Fria" - ou resquícios dela - visualizada numa disputa meio que silenciosa entre as superpotências da ocasião, EUA  e URSS. Esta havia feito uma Olimpíada em Moscou no ano anterior, que até hoje é lembrada pela mistura de beleza e simplicidade de suas abertura e cerimônia de encerramento. Além de se caracterizar por um boicote a estes Jogos Olímpicos organizado por EUA e demais aliados, que se recusaram a ir por causa da invasão soviética ao Afeganistão, ocorrida em 1979. Com estes Jogos, a burocracia soviética - comanda por Brejnev - agonizava perante o povo soviético mas também de forma geral, porém ainda resistia e permanecia como um importante contraponto ao imperialismo norte-americano. Daí, a persistência da "Guerra Fria", ameaçando o planeta com uma possível 3ª Guerra Mundial.
Em 1981, vivíamos - no Brasil - uma ditadura militar que agonizava em seu regime, mas ainda persistia. Como também no Chile, país do rival do Flamengo naquela decisão, o Cobreloa. Governava com mão de ferro aquele país o general Pinochet, que havia subido ao comando através de um golpe  militar em 1973, depondo pelas armas o então presidente socialista Salvador Allende. Pinochet implantaria, como ficou provado anos mais tarde, uma ditadura militar sangrenta, que exterminou milhares de ativistas políticos e também pessoas que apenas eram oposição a seu governo. Coisa que foi "copiada" pelos generais de Brasil e Argentina, para citar os dois países mais famosos da época, que também viviam sob uma ditadura militar. Afirmamos estes dois país porque, na final de 2019, um representante do Brasil (Flamengo) e um da Argentina (River Plate) se enfrentaram pela Libertadores. Daqui a pouco, falamos mais sobre isto.
A ditadura militar brasileira começava a sofrer muitas resistências internas, com vários fatores colaborando para isso: a conquista da anistia em 1979, trazendo de volta ao país muitas pessoas que haviam sido exiladas no início da ditadura, como Brizola, Arraes, Francisco Julião, Gabeira, e tantos outros/as que foram repatriados; a formação do PT em 1980, que vinha a ser (na ocasião) um partido para lutar em prol da classe trabalhadora e que conseguia aglutinar boa parte dos principais ativistas políticos de nosso país. Anos depois, impulsionados pela construção do PT, surgem a CUT e o MST; havia um ascenso muito grande e forte dos/as trabalhadores/as brasileiros/as na luta contra sua exploração, seja pelo governo, seja pela patronal, vide as recentes greves (na época) ocorridas no ABC paulista e que motivaram, de certa forma, o surgimento das organizações políticas supracitadas; era tempo de um forte caldo cultural em nosso país, com o ressurgimento (por causa da volta dos/as anistiados/as) do teatro de contestação e de um rock nacional que, em boa parte dele, criticava o status quo vigente naqueles anos, em especial a ditadura militar e a censura imposta por ela. Inúmeras bandas de rock pipocaram pelo país, como Titãs, Legião Urbana, RPM, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, Plebe Rude, Blitz, Ira e tantas outras no cenário nacional. Evidentemente, que nem tudo surgiu em 1981, mas vieram na esteira desses acontecimentos a que nos reportamos.
Após conquistar o Brasileirão de 1980, pela primeira vez, numa final extraordinária contra o forte Atlético MG, no Maracanã, o Flamengo confirma sua presença na Libertadores do ano seguinte. Tudo isso pela 1ª vez em sua história. E, como afirmamos no início, esta saga se confirma em 23 de novembro de 1981, quando o Flamengo vence (com dois gols de Zico) o Cobreloa em Montevidéu. Naquele jogo, o Flamengo foi a campo com a seguinte formação: Raul, Nei Dias, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Leandro e Zico; Tita, Nunes e Adílio. O centroavante Anselmo entrou no jogo no finalzinho apenas com uma missão: dar um soco na cara do zagueiro chileno Mário Soto, que durante os dois jogos anteriores - no Rio de Janeiro e em Santiago - havia barbarizado contra os rubro-negros em campo, especialmente no Chile, quando com um anel na mão, sangrou Adílio no supercílio e deu um murro também em Lico. Anselmo entrou, então, para "dar uma lição" no zagueiro chileno. O jogo já estava decidido a favor do Mengão, portanto se fosse expulso (como foi após o lance), Anselmo "vingaria" a nação rubro-negra espalhada pelo país. Houve uma confusão após isto, mas nada que afetasse o título MERECIDO do Flamengo naquele ano.
Agora, em 2019, há semelhanças com a conquista de 1981 (como já vimos), mas também algumas diferenças. A primeira delas é que o Flamengo habilitou-se para esta Libertadores por ter sido vice-campeão brasileiro em 2018, atrás do campeão Palmeiras. A segunda diferença é que o Flamengo, ao contrário daquele time do início dos anos '80, vinha de uma sequência de maus resultados em competições nacionais, sempre chegando atrás de grandes clubes, como em 2018, perdeu a Copa do Brasil para o Cruzeiro e, depois, o Brasileiro para o Palmeiras. Isso, apesar de ter se reforçado ao longo de um período de dois anos para alcançar resultados expressivos. Mas, não passava das conquistas do Estadual e isso incomodava a torcida e fazia a festa dos antiflamenguistas, segunda maior torcida do Brasil (perde apenas para o Flamengo). Sem falar nas sucessivas derrotas na Libertadores, sempre ficando pelo caminho. 
Uma outra mudança que se dá em 2019 é na conjuntura. No plano internacional, temos hoje uma nova "Guerra Fria", desta vez entre EUA e China, mas que se desenrola no campo comercial, numa disputa entre as duas principais potências econômicas do planeta na atualidade, mas que afetam os demais países, pobres ou ricos. Não há mais a URSS que conhecíamos há 38 anos atrás, mas há a Rússia, governada por um ex-agente da KGB, Vladimir Putin, que vez ou outra, balança os alicerces das potências mundiais. Isso se dá principalmente pela força bélica que possui a Rússia atualmente, herança do antigo regime stalinista. Nos EUA, possuímos uma "democracia burguesa" que elege um presidente - o republicano Donald Trump - com menos votos do que sua adversária de ocasião, a democrata Hillary Clinton; na China, o regime stalinista, de partido único, permanece com mais força interna, à custa de muita repressão a seu povo, enquanto impulsiona uma agenda pra lá de capitalista, no plano econômico. Apesar disso, a China é cultuada por muitos partidos de "esquerda" como "comunista", tipo PCdoB e PCB. Durma com uma zoada dessas.....
No Brasil, desde 1985 há um processo de "redemocratização" inaugurado com o fim da ditadura militar. Fatos marcantes deste período foram a Assembleia Nacional Constituinte, eleita nas urnas em 1986 (que deu uma vitória esmagadora ao PMDB naquela época, elegendo 22 governadores de 23 possíveis, ficando apenas o Estado de Sergipe fora desta lista) e que originou uma nova Constituição para o país, em outubro de 1988; após isso, ocorreram as eleições para presidente em 1989, a primeira após o fim da ditadura militar. Chegaram ao segundo turno da disputa os candidatos Collor (PRN) e Lula (PT). O primeiro era o representante da direita, especialmente aquela mais vinculada ao golpe de '64; o segundo era o representante da classe trabalhadora, sobretudo aquele setor que lutou contra a ditadura militar e impulsionou as grandes greves do ABC paulista do final da década de '70 e que serviu de exemplo para a retomada das lutas da classe em todo o país. Foi neste "caldeirão político" que o Brasil chegou em dezembro de 1989 e, para desalento de muitos (inclusive deste blogueiro), Collor venceu as eleições e passou a governar a partir de 1990. Neste ano, ocorreram as eleições estaduais, em que foram eleitos os novos governadores, deputados federais e estaduais. O peemedebista Ronaldo Cunha Lima, ex-prefeito de Campina Grande, foi eleito governador da Paraíba, derrotando seu principal adversário da época, o ex-governador Wilson Braga (PDS). Porém, com o desgaste político do PMDB, neste ano o partido elegeu apenas 7 governadores em 27 possíveis. Uma queda bastante razoável!!!
Após esta derrota eleitoral em 1989, com a candidatura Lula, o PT passou a mudar sua orientação política, com a ideia de construir alianças eleitorais cada vez mais amplas para, com isso, chegar ao governo. Os detalhes disso ficarão para outro artigo.
Importante é citar que, em 2019, o Brasil vive um novo momento político, com a ultradireita à frente da Presidência da República, através do capitão da reserva, Jair Bolsonaro (eleito pelo PSL mas atualmente sem partido). Este conseguiu, através dos anos, conquistar apoios entre os setores mais reacionários da sociedade brasileira, pegando carona na "onda da insatisfação popular" ao governo Dilma Rousseff (PT) e, contando com as graças de parte da burguesia nacional, chegou ao governo central. Uma vez lá, segue implementando uma agenda de duríssimos ataques à nossa classe, sendo bastante conivente (e compreensível) com a elite econômica de nosso país. Apesar disso, não assistimos no último período uma reação progressiva e na mesma proporção dos ataques que o governo vem fazendo ao povo, por parte da maioria das direções do movimento dos trabalhadores. Muitos preocupados em encontrar uma saída no terreno eleitoral, seja 2020 ou 2022. Infelizmente............
Neste clima conjuntural, Flamengo e River Plate se encontraram em Lima para decidirem a Libertadores 2019. Antes de falar no jogo em si, não é demais lembrar que a Argentina (assim como o Brasil) também passa por uma situação muito difícil, vivendo uma crise econômica tremenda, que fez com o que o peronista Alberto Fernández vencesse o então presidente Maurício Macri. Outra coisa a se falar do jogo: o River Plate foi o time OFICIAL da ditadura militar argentina. Alguns acusam o Flamengo de ser peça integrante da direita (ou até mesmo da extrema-direita). Não nego que haja, entre seus torcedores, perfis deste tipo. É de ficar surpreso com a aliança (inédita, até então) entre bolsominions e "revolucionários", ditos socialistas, em prol do River Plate. Mas, só não vê quem não quer a diferença (política) entre Flamengo e River Plate!!!
O Flamengo disputou a final em Lima com a seguinte formação: Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí e Filipe Luís; William Arão, Gérson, Everton Ribeiro e De Arrascaeta; Gabigol e Bruno Henrique. No decorrer do jogo, especialmente  no 2º tempo da partida, quando o River Plate vencia por 1 a 0, entraram Diego no lugar de Gérson e Vitinho no lugar de Arão. Nos minutos finais da decisão, viria mais uma coincidência entre 2019 e 1981: como já disse, Zico fez os dois gols da final de 1981; agora, essa glória coube a Gabigol, que fez nos minutos finais do jogo os dois gols do Mengão e fizeram a nação rubronegra vir ao delírio em Lima e em todo o país. Além de um infarto nos corações dos antiflamenguistas.
O Flamengo torna-se, assim, BICAMPEÃO da Libertadores. Habilita-se a disputar o Mundial de Clubes não apenas este ano como também em 2021, quando este torneio terá novo formato (já definido pela FIFA com 24 clubes).
Como em 1981, agora é o Liverpool. Que venham os ingleses!!!

PS: Para quem deseja saber, meu time ideal (juntando os de 1981 e 2019) é: Diego Alves, Leandro, Rodrigo Caio, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Everton Ribeiro, Nunes e Bruno Henrique. Ou seja, 7 do grupo de 1981 e 4 do atual, ok???

0 comentários:

Postar um comentário