Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Por quê Amanda Gurgel não foi reeleita vereadora em Natal



Uma polêmica de relativa monta atravessa uma parcela da esquerda socialista de nosso país e traz, novamente, à tona o debate sobre a participação dos socialistas nas eleições burguesas: a não reeleição da vereadora Amanda Gurgel em Natal, capital do Rio Grande do Norte, neste domingo, 02 de outubro de 2016.
Amanda, mais uma vez, mostrou sua força eleitoral na capital potiguar, apesar de disputar a eleição por uma pequena legenda. Obteve exatos 8.002 votos (2,69% dos votos válidos), sendo a 2ª mais votada na cidade, ficando atrás apenas do vereador eleito Raniere Barbosa (PDT), que teve 10.510 votos. Para se ter uma ideia do absurdo eleitoral que se verificou nestas eleições em Natal, o último vereador eleito na capital norte riograndense teve 1.829 votos e estará exercendo o mandato a partir de fevereiro de 2017.
Tudo isso ocorreu por conta de uma profunda distorção no sistema político-eleitoral brasileiro que permite que as coligações partidárias, através de uma coisa chamada QUOCIENTE ELEITORAL, faça com que candidatos/as com menos votos, mas pertencentes a coligações enormes, possam (mesmo com menos votos do que outros/as, mas desde que tais coligações atinjam o tal quociente) possam ser eleitos/as e, assim, exerçam um mandato eleitoral. Amanda Gurgel, para ser realmente eleita nas eleições deste ano, deveria ter obtido algo em torno de 15 mil votos sozinha, já que o PSTU não fez coligação nas eleições deste ano em Natal. Assim, como obteve pouco mais da metade desses votos necessários à obtenção do quociente eleitoral, Amanda não conseguiu sua reeleição.
Aí entra o "xis" da polêmica sobre a não da reeleição de Amanda. Setores da esquerda e de sua nova organização, o MAIS* (Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista) acusam o PSTU pela não reeleição de Amanda justamente por este não ter feito uma aliança com o PSOL em Natal e, assim, inviabilizado tal projeto político da companheira.
É uma acusação caluniosa, infundada  e desprovida de elementos políticos mínimos para um debate sério. Assim que saiu o resultado eleitoral, a nova organização da vereadora Amanda Gurgel divulgou uma nota onde reafirma essa acusação, onde textualmente diz que "a divisão da frente de esquerda e socialista na maioria das cidades brasileiras cobrou o seu preço. Por exemplo, caso existisse uma frente de esquerda em Natal, com PSOL, PSTU e PCB, Amanda seria tranquilamente reeleita e a bancada da esquerda socialista na câmara poderia se manter". 
Sobre esta afirmação do MAIS, temos algumas coisas a dizer.
1º) os/as companheiros do MAIS parecem desconhecer profundamente a extrema dificuldade da atual conjuntura porque TODA a esquerda, de conjunto, passa atualmente, por conta da crise política que o país atravessa, onde a direita se aproveita para desmoralizar todos os setores militantes da esquerda socialista, aproveitando-se do exemplo dos 13 anos de governo do PT e espalhando isso nas consciências de nosso povo;
2º) os/as companheiros/as do MAIS parecem desconhecer o que ocorreu em algumas cidades brasileiras a respeito da tal "divisão" da Frente de Esquerda. Esquecem (ou fazem de conta que esqueceram, o que é pior) o que ocorreu em Porto Alegre, por exemplo, quando os companheiros do MAIS deixaram de lançar candidaturas pelo PSTU para passar a apoiar a candidatura de Luciana Genro, do PSOL;
3º) o entendimento dos/as companheiros/as do MAIS sobre a necessidade de uma Frente de Esquerda em Natal é estranho. Para os/as companheiros/as, a Frente seria importante apenas para reeleger Amanda, já que ela seria "tranquilamente reeleita", segundo a nota dos/as companheiros/as. Isso revela uma diferença FUNDAMENTAL entre o que o MAIS pensa sobre as eleições em relação a nós.
Queremos, por fim, deixar uma questão para o pensamento de todos/as. Em alguns locais desse país, fizemos aliança com o PSOL nestas eleições. Porém, não conseguimos eleger NENHUM vereador/a. Por quê??? Terá sido culpa do PSTU???

*MAIS (Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista) é uma nova organização surgida este ano, da qual Amanda Gurgel faz parte, fruto de uma ruptura com o PSTU. Por conta do prazo eleitoral, o PSTU decidiu ceder de forma democrática a legenda para que esta pudesse participar das eleições deste ano pelo partido, mas pela sua nova organização.

2 comentários:

  1. Na verdade elegeu sim, em Currais Novos no interior do RN a coligação PSOL/PSTU elegeu um professor.

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  2. Em 2012 a Amanda e mais 2 companheiros do PSOL (Sandro Pimentel e Marcos) conseguiram se eleger vereadores de Natal por 2 principais motivos: primeiro pq houve o "fenômeno Amanda Gurgel" impulsionada pelos vídeos virais das redes sociais; segundo pq foi crucial a Frente com o PSOL.

    Como o companheiro mesmo disse em seu texto no 1º ponto, a "extrema dificuldade da atual conjuntura porque TODA a esquerda, de conjunto, passa atualmente, por conta da crise política que o país atravessa, onde a direita se aproveita para desmoralizar todos os setores militantes da esquerda socialista". Já sabendo disso, nós do MAIS e os companheiros do PSOL, travamos uma batalha ideológica para que a Frente de Esquerda Socialista saísse aqui em Natal. Reconhecer q vivemos em um conjuntura desfavorável para esquerda e ñ entender q a Frente e Unidade são táticas imprescindível para sobrevivência e contra-ataques de ofensivas conservadora, requer no mínimo um balanço mais analítico. Fazer balanços e reconhecer os erros programático, políticos e estratégicos é ofício de qualquer revolucionário bolchevique. No 2º e 3º ponto, entendemos q ñ sair com a Frente tbm foi um erro tanto lá quanto aqui em Natal. Se, como vc disse acertadamente, não há correlação de forças, vivemos um momento de recuo da classe trabalhadora, dos movimentos sociais e dos partidos de esquerda, nossa maior arma seria a união da classe trabalhadora, nas ruas a Unidade de ação, nas eleições a Frente de Esquerda Socialista. Procurar a auto-afirmação e sectarismo é um erro grave.

    Sabemos q eleição ñ muda nada e q esse não é nosso principal campo de atuação. Porém disputamos mentalidade, disputamos consciências. E se a classe trabalhadora ainda acredita nas Eleições, então nós, socialistas revolucionários, temos o dever de disputá-las, exaltando toda a falta de democracia nelas, fazendo as denúncias de um sistema corrupto e tentando demonstrar a falácia do nosso sistema democrático burguês (essa é a obrigação de qualquer mandato parlamentar revolucionário e temos certeza q nessa ponto, o mandato da Amanda Gurgel ñ falhou, ao contrário, teve bastante êxito) e isso é disputar consciências, é lutar pela emancipação da classe trabalhadora. Além disso as eleições tbm serve para divulgar programas e construir organizações revolucionárias e os votos conquistados por essas organizações tbm devem servir de termômetro. Nesse quesito, nós do #MAIS, saímos de cabeça erguida. Foram 8 mil votos na candidatura à vereador(a) mais a esquerda em Natal, sabemos q esse é o número real, números que trouxeram Amanda Gurgel a ser a segunda vereadora mais votada em Natal.

    Acredito que os companheiros do PSTU deveriam tentar fazer uma análise dos votos mais à fundo. Prof. Dário Barbosa deve uma votação menos expressiva que em eleições anteriores. Isto demonstra o quanto o partido está se isolando, tanto na rua com o "Fora todos", estão falando sozinhos, quanto na questão de disputa/termômetro eleitoral, no qual foi nítida a queda. Se os companheiros avaliam esses pontos como sendo positivo, achando q a Revolução está bem próximo, logo ali na esquina, eu só tenho a lamentar.

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