Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

domingo, 25 de setembro de 2022

Dialogando com o senso comum ou quando vale qualquer coisa pra justificar o "voto útil"

"A democracia é uma forma de governo em que a cada quatro anos se troca de tirano".

Lenin


O site "Esquerda Online" publicou, neste dia 24/09, um artigo dos coordenadores gerais do SINASEFE, Artemis Martins e David Lobão, de nome "Um papo reto", onde defendem a necessidade de derrotar Bolsonaro (PL) ainda no primeiro turno desta eleição com o consequente voto em Lula (PT) como sendo isso uma "urgência fundamental necessária" (trecho retirado do próprio artigo). Mas, antes disso, gostaríamos de fazer algumas referências ao texto em si e a outras questões que também dizem respeito ao mesmo.

Primeiro, é um texto confuso em alguns aspectos. Inicialmente, Artemis e David afirmam que há "uma polémica importante entre organizações revolucionárias no Brasil" e que estas "consideram que as jornadas de junho de 2013 continuam em aberto, que vivemos em cima de um barril de pólvora, e por isso, estamos diante de uma situação pré-revolucionária prestes a explodir". Ao mesmo tempo, segundo os coordenadores do SINASEFE, "outras sustentam que vivemos uma situação reacionária, consequências do golpe jurídico-parlamentar-midiático aplicado contra a presidenta Dilma" (https://esquerdaonline.com.br/2022/09/24/um-papo-reto/). Mais na frente, começam as confusões - pra não afirmar CONTRADIÇÕES - expressadas pelos autores/defensores do "voto útil" na chapa Lula-Alckmin como "uma urgência fundamental e necessária" para derrotar Bolsonaro.

Antes de irmos às confusões/contradições dos autores, uma pausa importante: defendemos como "urgência fundamental e necessária" a derrota de Bolsonaro nestas eleições e do bolsonarismo no período posterior a estas eleições, mas NÃO apoiando e votando em uma saída burguesa colocada nos marcos da chapa Lula-Alckmin. 

Dito isso, partamos para nossa análise acerca do artigo dos coordenadores do SINASEFE.

No 4º parágrafo do texto, afirma-se que "a classe trabalhadora, mesmo fragilizada e sofrida, não sofreu uma derrota histórica - o que a colocaria em um lugar de resignação e ressentimento" (idem). Assim, vem a pergunta: se estamos vivendo uma situação reacionária (como defendem os autores), como a classe trabalhadora NÃO sofreu uma derrota histórica neste período???

No 5º parágrafo, Artemis e David utilizam um argumento muito usado pelas organizações reformistas para justificar o apoio a Lula como se este fosse das "organizações revolucionárias": o de que estas eleições são as "eleições das nossas vidas", justificando assim toda a política prioritária que organizações como PT, PSOL, PCdoB e seus satélites* possuem nas eleições burguesas em vez da ação direta da classe.

Queremos chamar atenção a um fator importante citado por Artemis e David ao longo do texto para justificar o "voto útil" destes e do SINASEFE em Lula-Alckmin nestas eleições: o uso do "rigor metodológico" nas "análises sérias" da realidade que todo marxista deve ter para fazer tal procedimento. 

Dito isso, partamos para o número de greves ocorridas no Brasil nos últimos anos, segundo dados do DIEESE, para verificarmos se estamos ou não vivendo uma situação reacionária. Não se pode dizer que este não é um dado importante da realidade brasileira para fazer uma "análise séria" baseada num "rigor metodológico" e sem estar amparados "exclusivamente nas convicções da vanguarda, mas sobre um diagnóstico objetivo e coerente da situação" (idem).

De acordo com o "Balanço da Greves do DIESSE", em 2018 (ano da eleição de Bolsonaro), ocorreram 1453 movimentos paredistas organizados pela classe trabalhadora em todo o país, com 69.233 horas paradas; em 2019, ano do 1º mandato de Bolsonaro no governo e da aprovação da "Reforma da Previdência", ocorreram 1118 movimentos paredistas organizados pela classe trabalhadora em todo o país (cerca de 30% a menos que o ano anterior), com 44.650 horas paradas (cerca de 55% a menos que no ano anterior); em 2020, houve uma queda significativa nestes números: ocorreram 649 movimentos paredistas organizados pela classe trabalhadora em todo o país, com 19.486 horas paradas. Evidente que o surgimento da pandemia do coronavírus neste período teve uma influência determinante neste aspecto; em 2021, apesar da pandemia, houve um aumento: ocorreram 721 movimentos paredistas organizados pela classe trabalhadora em todo o país (cerca de 11%), com 32.534 horas paradas (cerca de 67%).

Ou seja, os dados do DIEESE, no seu "balanço de greves", aponta que estamos longe de vivermos uma "situação reacionária", de "derrota histórica da classe trabalhadora", como querem fazer crer não apenas Artemis e David, mas toda a esquerda reformista que existe no Brasil, liderada por PT, PSOL e PCdoB e seus satélites. Pode-se questionar se estamos vivendo a "situação pré-revolucionária", mas afirmar com toda a veemência que passamos por uma "situação de derrota histórica da classe" é, por um lado, construir uma narrativa extremamente pessimista e, por outro lado, semear ilusões na classe para elaborar (como estão elaborando há décadas), uma política reformista e submissa aos capitais nacional e internacional em nosso país.

Por fim, queremos dizer uma coisa importante. Se fôssemos adotar o discurso de que estamos vivendo uma "situação reacionária" em nosso país, então esta já estaria sendo vivenciada por todos nós há muito tempo. Segundo o "Balanço da Greves do DIESSE", em 2004 (segundo ano do governo Lula), ocorreram 302 movimentos paredistas organizados pela classe trabalhadora em todo o país (não há registro de horas paradas naquela ocasião); ainda segundo este estudo do DIEESE, em 2010 (último ano do governo Lula), ocorreram 446 movimentos paredistas organizados pela classe trabalhadora em todo o país (também não há registro de horas paradas naquela ocasião). Destes dados, vem a pergunta: Artemis e David consideram que a classe trabalhadora brasileira vivia em "situação reacionária" durante o governo Lula??? A classe trabalhadora de nosso país estava sofrendo uma "derrota histórica" neste período, para os coordenadores do SINASEFE???  Um detalhe importante sobre este estudo do DIEESE: as greves aqui relatadas são dos setores público e privado!!!

Com tudo isso, podemos chegar à conclusão que: 1) afirmar que estamos vivendo uma "situação reacionária" e de "derrota histórica da classe trabalhadora" é uma afirmativa dos autores deste texto e das lideranças da esquerda reformista de nosso país, questionada diretamente pelos dados apresentados pelo DIEESE, como revelamos agora; 2) votar em Lula como "urgência necessária é fundamental" para derrotar Bolsonaro é uma consequência política destas afirmações construídas pelas esquerda reformista de nosso país; 3) o "voto útil" nestas e em outras eleições serve para desviar a classe trabalhadora da real tarefa desta, que é destruir a sociedade capitalista e seus verdadeiros representantes, através da ação direta da classe, e não pela via eleitoral, que já mostrou, mais de uma vez, que NÃO resolve os graves problemas enfrentados no cotidiano da classe!!!


*quando usamos a expressão "satélites", estamos nos referindo às organizações que estão em torno do PT, PSOL e PCdoB, como CUT, CTB, UNE, UBES, MST, MTST, dentre outras!!!


POR UMA ALTERNATIVA SOCIALISTA E REVOLUCIONÁRIA!!!

VERA LÚCIA/RAQUEL TREMEMBÉ

PSTU 16






 

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