Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Um outro olhar dos 437 anos de João Pessoa e da Paraíba

 

   




    


Há 437 anos, em 05 de agosto de 1585, a Paraíba passava a existir enquanto Cidade de Nossa Senhora das Neves após uma batalha empreendida pelos portugueses contra os indígenas que habitavam a região; depois, este nome modificou-se para Parahyba por algum tempo e, em 1930, após o assassinato do então presidente da província (nome dado ao governador de Estado na época), seu nome passou a ser João Pessoa, como é até os dias atuais. Evidente que estamos fazendo uma síntese mais do que sintética dos acontecimentos ocorridos nestes mais de 4 séculos que se passaram nesta cidade. O nome “paraíba”, de origem tupi, tem significados controversos mas, o mais aceito entre os estudiosos, é “rio de navegação difícil”. Sobre o nome da cidade, dentre os três mais famosos que existiram ao longo de sua existência, prefiro o segundo e o que durou mais tempo: PARAHYBA, assim mesmo, com HY. E podem ter certeza, não estou sozinho nessa defesa!!!

      A capital de todos/as paraibanos/as e de vários/as imigrantes (nacionais e internacionais) possui várias belezas, naturais ou não). Dentre elas, destacam-se os ipês amarelos que florescem no Parque Solon de Lucena, na Lagoa, a cada primavera; o conjunto arquitetônico da Igreja São Franciso ou do Mosteiro de São Bento, na cidade antiga; as praias, urbanas e do restante do litoral, seja ao Norte ou ao Sul, em destaque a de Tambaba, famosa internacionalmente por conta do naturismo; há que se destacar também o Vale dos Dinossauros, em Sousa, no sertão paraibano, pela riqueza de sua história, apesar de não estar tão bem conservado assim atualmente; e não podemos deixar de citar a Itacoatiara (ou a Pedra do Ingá, como também é conhecida), igualmente rica em história. Enfim, a Paraíba tem muitas riquezas naturais ou não a serem exploradas, visitadas e vistas e, consequentemente, a encantar a quem as visite.

      Alguém pode estar se perguntando por que não citei o mais famoso cartão postal de nossa Paraíba no parágrafo anterior, a Ponta do Seixas. Não a esqueci, afinal esta é – ainda – o ponto mais oriental das Américas. Mas, deixei para falar agora porque esta beleza natural paraibano é, também, um dos mais desprezados há muito tempo por nossos governantes de plantão e está simplesmente desaparecendo, ao ponto de, em locais como o Rio Grande do Norte, setores já considerarem a capital potiguar como o “ponto mais oriental das Américas”. E, porquê isso???

      A decadência da Ponta do Seixas é apenas mais um ponto triste dos muitos problemas que existem em nosso Estado atualmente. Este é, na nossa opinião, o principal problema ecológico que temos há vários anos, aprofundado particularmente após a construção da Estação Ciência no espaço que antes era destinado a um parque natural chamado “Bosque dos Sonhos”, que ocupava cerca de 5ha naquela área e que foi desmatada, na ocasião, para dar lugar ao equipamento público citado anteriormente e que – coincidência ou não -, depois de sua existência no local, a falésia do Cabo Branco acelerou sua erosão e todos os problemas decorrentes disso (como a interdição daquela área até hoje) continuam. Tais fatos iniciaram no governo do então prefeito Ricardo Coutinho (na época, no PSB) e permanecem sem solução, com os prefeitos posteriores – Luciano Cartaxo (PT, depois PSD e, por fim, PV) e, agora, Cícero Lucena (PP) -. Todos estes, sem exceção, fizeram e fazem a mesma coisa em relação a esta questão: empurram a solução do problema com a barriga. Dizem que o caso com o IBAMA, que diz que o problema é da SUDEMA, que manda o caso de volta para a Prefeitura. E, neste jogo de empurra, João Pessoa vai perdendo sua principal beleza natural!!!

     Além disso, a Paraíba e João Pessoa tem outros graves problemas. Segundo o Boletim Desigualdade nas Metrópoles, elaborado pelo Observatório das Metrópoles, em parceria com a PUC/RS e Observatório da Dívida Social (RedODSAL), João Pessoa é uma das cidades mais desiguais do país, social e economicamente. Menos de ¼ da sua população vivia com 24,5% do salário mínimo no 1º trimestre de 2020 – o que representava R$ 261,25 -; além disso, no mesmo período, os 10% da distribuição de renda ganhavam (em média), 29,6 vezes mais do que os 40% mais da base da distribuição de renda; um ano depois, no 1º trimestre de 2021, esses mesmos 10% da distribuição de renda passaram a ganhar, em média, 42,3 vezes mais do que os 40% mais da base da distribuição da renda. Um aumento considerável da concentração de renda em plena pandemia do coronavírus. Em relação à cesta básica, João Pessoa tem uma das mais caras do país, com seu valor custando cerca de 50% do atual salário mínimo – R$ 586,73 -, sofrendo um aumento de 18,35% em 12 meses, segundo pesquisa feita pelo DIEESE em junho deste ano.

Um outro dado que revela um grave problema paraibano é o fato de que, em nosso Estado, segundo a PNAD Contínua, pesquisa feita pelo IBGE, a Paraíba possuir a segunda maior taxa de analfabetismo do país – 16,1% -. Quando verificamos o mesmo percentual na taxa de analfabetismo funcional, esse número chega a cerca de 50% da população paraibana. Um absurdo em pleno século XXI!!!

Por fim, mais alguns dados assustadores sobre a situação da Paraíba em nossos dias. Num país que possui mais de 33 milhões de pessoas passando fome, temos cerca de 80 mil famílias paraibanas passado por esta mesma situação; quando verificamos o drama do desemprego, observamos que o número percentual alcança pouco mais de 14% enquanto na informalidade, este número é de mais de 50%. Números que revelam o tamanho da crise por que passam os/as trabalhadores/as da Paraíba, João Pessoa e do Brasil atualmente.

Saudamos a cidade de João Pessoa por mais um aniversário. Mas, não podemos nos esquecer que, ao lado de uma cidade recheada de locais bonitos e agradáveis para se ver, viver e curtir, há também uma cidade cheia de questões a serem resolvidas para que os/as trabalhadores/as possam, definitivamente, tomar conta de SUA cidade.

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