Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Direção do SINTEP: Dirigentes ou gângsteres sindicais?



A recente greve dos/as trabalhadores/as da educação estadual da Paraíba serviu para muitas coisas, em especial para que toda uma gama de jovens militantes fizessem uma primeira experiência prática com a direção secular do SINTEP,  e dessa experiência pudessem extrair muitas lições. Quem tiver o mínimo de senso crítico e for bom observador saberá retirar boas lições desse aprendizado.
Não é a toa que Lenin, líder da Revolução Russa de 1917, afirmava que a greve era uma escola para a formação da classe trabalhadora. Nesse mês de abril em que a categoria dos/as trabalhadores/as da educação estadual paraibana se manteve de braços cruzados, muitas lições foram oferecidas por essa escola. Quem se dispôs a aprender saiu com um cabedal sem tamanho de conhecimentos que levará para toda sua vida militante e profissional também, por que não dizer?
Uma das lições mais importantes foi em relação à direção do SINTEP. Formada por militantes do PT e da CUT, organizados em um grupo que já vem comandando a entidade desde os tempos da ex-AMPEP, no final dos anos 70 - para ser mais exato, desde 1979 - esse grupo, liderado hoje por Antonio Arruda, Carlos Belarmino, Paulo Xavier, Ronaldo Cruz e outros/as configuram aquilo que o movimento operário já consagrou classificar como "burocracia sindical". 
Para nós, da esquerda socialista, "burocracia" é " uma casta de administradores privilegiados"(...). "Sua condição privilegiada os torna agentes diretos da burguesia dentro da máquina estatal". (http://www.pstu.org.br/node/9047). Este fenômeno social é fruto do processo histórico de acomodação de um setor do movimento operário ao capitalismo, que acredita ser possível conquistar melhorias de vida para a classe trabalhadora dentro da estrutura montada pelo capital, sem no entanto entrar em conflito com este. Desta maneira, esta ideia entra em total desacordo com a formulação de Marx e Engels, expressa no "Manifesto Comunista", quando os pais do socialismo científico afirmam, com todas as letras, que os interesses dos trabalhadores são inconciliáveis com os dos patrões e, assim, eles chamam nossa classe a se organizar na luta incessante para derrotar o capitalismo e construir uma sociedade de novo tipo, sem explorados nem exploradores, a sociedade socialista.
É preciso perceber que a burocracia sindical é formada por pessoas que foram construídas na luta da nossa classe. Em um determinado momento, esse grupo de pessoas muitas vezes desenvolveram lutas em defesa dos direitos da classe, em boa parte das ocasiões se defrontaram até fisicamente com os aparelhos de repressão do Estado na defesa dos direitos dos/as trabalhadores/as. Mas, a partir do momento em que assumem o comando das entidades e, principalmente, com as mudanças conjunturais, cria-se um processo de acomodação social e política que vai refletir na mudança comportamental dessas pessoas que, por conseguinte, vai gerar mudanças também na classe como um todo. Vejamos o caso do SINTEP.
A atual burocracia sindical que comanda o SINTEP hoje ajudou, no finaL dos anos 70 e início dos anos 80, a construir grandes processos de luta em nosso Estado. Na esteira das greves dos metalúrgicos do ABC paulista, o SINTEP organizando as lutas do magistério paraibano, enfrentando nas ruas a PM do governo Burity, foi fundamental no processo de construção de duas mais importantes ferramentas de luta da classe trabalhadora naquela época: o PT  e a CUT.   
Esse processo de lutas atravessou toda a década de 80, momento em que tanto o PT quanto a CUT se afirmaram perante a classe trabalhadora brasileira como importantes instrumentos de luta. Mas, no final dos anos 80, isso começou a mudar, graças a dois fatos históricos importantes: a queda do muro de Berlim e a eleição de Collor, ambos em 1989.
O historiador Eric Hobsbawn não classificou à toa que o século XX teve como início o ano de 1917 (ano da Revolução Russa) e como final 1989 (ano da queda do muro de Berlim). Para Hobsbawn, esses dois fatos históricos representavam rupturas importantes na cena política mundial e também na consciência de classe.
No Brasil, os dois fatos citados (queda do muro de Berlim e eleição de Collor), ocorrendo quase que simultaneamente, foram decisivos na ofensiva ideológica do capital sobre a consciência militante em defesa do socialismo e das formas de luta defendidas pelos socialistas. Eram tempos de defesa de "fim da História", "vitória final do capitalismo" e outras coisas do tipo.
O que isso tem a ver com a direção do SINTEP? Aparentemente, nada. Porém, na mudança de postura política e, sobretudo, na elaboração da política a ser levada para a classe trabalhadora a partir de então, os efeitos foram muitos e desastrosos para a consciência de nossa classe.
Como já afirmamos, a queda do muro de Berlim trouxe à tona toda essa discussão do "fim do socialismo", "fim da História", "o socialismo não serve mais" e coisas do gênero. A burguesia mundial soube utilizar ,muito bem todos os aparatos que dispunha na ocasião para propagar essa mensagem aos quatro cantos do planeta e, além disso, construir novos mecanismos de dominação, como o neoliberalismo, que contaminou a cena política e econômica durante os anos 90, sobretudo.
No plano interno, a vitória de Collor e a consequente derrota de Lula foi, como se costuma dizer, "além da queda, o coice". Lula, apesar de em 1989, já apresentar um programa que, em sua essência, não continha nada de revolucionário, porém era a expressão das lutas da classe contra a ditadura militar e pela redemocratização do país. Lula e o PT carregavam em si a simbologia de representarem toda uma classe e, mais do que isso, toda uma luta de homens e mulheres que se doaram para derrotar a ditadura e construir aquele momento que se vivenciava: novamente poder votar para eleger um presidente no país.
Esta derrota eleitoral, colado à ofensiva ideológica por conta da queda do muro de Berlim, ajudaram a construir um "caldo de consciência política" em nossa classe, a partir das direções dos principais aparatos políticos da classe - e a CUT e o PT tiveram papel fundamental neste caso - de deseducar os/as trabalhadores/as. Estes/as brasileiros/as, que no periodo anterior foram às ruas, enfrentaram a ditadura, agora estavam sendo chamados a não ir mais para o confronto e sim começar a aprender a negociar, que é melhor fazer assim para não perdermos nossos direitos. O problema dessa formulação é que se fazia isso sem colocar a classe em movimento e dando às direções das entidades um poder cada vez maior, praticamente acabando com as condições da base das categorias poder decidir sobre seus destinos      
As direções sindicais, a partir de então, com o argumento de que o movimento estava "em refluxo" se voltaram para dentro das entidades e, assim, atividades simples, rotineiras do trabalho sindical começaram a ser esquecidas, como visitar os/as trabalhadores/as nas unidades de trabalho, realizar assembleias de forma frequente e não apenas em período de campanha salarial, organizar também de forma frequente congressos da categoria e que as resoluções aprovadas sejam encaminhadas pela direção, especialmente aquelas que a direção não concorda. E outra coisa muito importante: prestações de contas periódicas da entidade aos/às filiados/as!
A consequência natural disso é que tais direções, em vários casos, deixaram de ser meramente "burocracias sindicais". A sua sobrevivência política enquanto casta social e, em especial, como individuo para cada membro desta, passou a ser tratada de forma "sagrada". O sindicato deixou de ser um instrumento de defesa da classe para ser um meio de vida para as pessoas desse grupo. E, para não perderem seus privilégios, a "burocracia sindical" vai fazer de tudo que estiver ao seu alcance para que esse quadro permaneça.
Isso é a direção do SINTEP. Só que essa greve recém encerrada de forma abrupta por Carlos Belarmino e cia revelou que o atual grupo dirigente do SINTEP, com suas atitudes, deu um "salto de qualidade" no processo de degeneração burocrática.
Ao contratar para a maioria das Assembleias seguranças privados (que entraram em confronto físico com trabalhadores/as da educação estadual na sede do SINTEP, neste dia 30/04, após a Assembleia Geral relâmpago que ocorreu na praça João Pessoa, ainda pediram reforço da PM.
Quando uma direção sindical chega ao ponto de pegar o dinheiro dos/as trabalhadores para contratar seguranças privados, verdadeiros capangas, sob a desculpa de "proteger o patrimônio do sindicato", essa direção não só esgotou seu papel enquanto direção, mas deixou de ser direção sindical para se transformar am GÂNGSTERES SINDICAIS. Essa é a classificação mais adequada para Antonio Arruda, Carlos Belarmino e cia que estão encastelados no SINTEP há 36 anos e, no que depender deles, permanecerão lá até a morte.
Nós, trabalhadores/as em educação estadual da Paraíba, NÃO iremos aceitar isso. O dia 30/04/15 ficará para SEMPRE marcado na história das lutas da classe trabalhadora paraibana e NÃO deixaremos ela ser esquecida. Foi o dia em que a direção do SINTEP morreu e começou a nascer uma nova alternativa de LUTA para o magistério da Paraíba!!!

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