Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

sábado, 23 de junho de 2012

Uma imagem vale por mil palavras



A recente imagem, espalhada pelos vários órgãos de imprensa e sites de notícias de todo o país, de Lula selando com um aperto de mão o apoio de Paulo Maluf à candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, deu muito o o que falar não apenas no campo da esquerda, mas no campo político de forma geral.
A imagem sela, definitivamente, a entrega do PT ao campo da direita. Pelo menos para quem quiser ver, evidentemente. Mas, para entender como isso se deu, é preciso fazermos uma breve histórico político-eleitoral do PT, mais especificamente das   campanhas eleitorais que Lula disputou desde 1989. Fazendo isso, podemos entender como podemos chegar a verificar esta cena da aliança entre Lula-Maluf em São Paulo.
Em 1989, na 1ª eleição presidencial direta depois da ditadura militar, o PT disputou com Lula aquela eleição com uma aliança com o PSB e o PCdoB. Era um ensaio da Frente Popular que se configuraria anos mais tarde, mas não era ainda de todo assumida, pois a candidatura Lula trazia em seu conteúdo todo o rescaldo das lutas e mobilizações do final dos anos 70 e todo os anos 80 contra a ditadura e pela redemocratização. Era, portanto, uma candidatura que refletia as lutas daquele período, apesar da queda do Muro de Berlim, ocorrida justamente em 1989, que foi aproveitada pela burguesia para atacar ideologicamente a candidatura. A derrota em 1989 para Fernando Collor, no 2º turno, aliada à ofensiva ideológica da burguesia por conta dos acontecimentos do Leste Europeu fez com que a direção do PT passasse a afirmar que o problema principal foi que a candidatura não ampliou as alianças políticas, era preciso construir um arco amplo de alianças. Em outras palavras, era preciso tornar o PT confiável à burguesia nacional e internacional. A partir daquele momento, Lula e o PT elaboraram toda uma política com este objetivo.
As eleições seguintes - 1994 e 1998 - foram sendo construídas pela direção nacional com esta política: tornar o partido confiável à burguesia.Porém, como a burguesia não atendia a este recado do PT e atacava sem dó a classe trabalhadora, o PT ainda se apresentava com um verniz de classe para os trabalhadores e explorados. Foi assim nas eleições de 1994, quando ampliou a aliança, mas não muito diferente do que foi em 1989. A diferença é que, nesta eleição, participaram da aliança o PPS, PV e o PSTU, recém criado naquela mesmo ano. Foi a primeira e última eleição que PT/PSTU marcharam juntos. Em 94, a bandeira da candidatura Lula foi combater o Plano Real, recém lançado pelo governo Itamar, através do seu ministro da Fazenda e candidato a presidente, Fernando Henrique Cardoso, que foi eleito no 1º turno. Já em 1998, o PT incorporou o PDT na aliança, com Brizola sendo o vice de Lula. Era um passo importante que o partido dava em direção à burguesia e ao latifúndio gaúcho, antigas bases do brizolismo naquele estado, sem falar em um setor de peso da burguesia fluminense.
Mas é em 2002 que o PT consegue dar o grande salto em direção à burguesia. Sua direção consegue finalmente conquistar a confiança do grande empresariado nacional e internacional. Todos devem se lembrar da viagem que Lula e Zé Dirceu fizeram aos EUA antes da campanha eleitoral daquele ano começar para se reunir com banqueiros e empresários norte-americanos para, justamente, se mostrar confiável aos imperialistas. Ao mesmo tempo, colocaram um dos maiores empresários do setor têxtil do mundo para ser o seu vice, o dono da Coteminas, José Alencar. Como o próprio Lula afirmava na época, era a união capital-trabalho na prática.Essa "união capital-trabalho" rendeu mais de 52 milhões de votos na disputa em 2º turno contra o tucano José Serra. Em 2006, a Frente Popular foi repetida, com José Alencar novamente na vice, e nova vitória, com mais de 58 milhões de votos, também em 2º turno, também contra um tucano, desta vez Geraldo Alckmin.
Os pragmáticos do PT, a começar da sua direção nacional, espalhando-se pelas direções estaduais e municipais, parlamentares, assessores, e todos que ocupam algum cargos nas três esferas de poder, dirão que a tática empregada pelo PT revelou-se vitoriosa, por conta do partido, desde a eleição presidencial de 2002, estar sendo vitorioso. Não há como negar que é um argumento. Mas................
Há vitórias e vitórias. Fazendo um paralelo utilizando o futebol, como Lula gosta muito de fazer, quando o Brasil perdeu para a Itália na Copa da Espanha, em 1982, por 3x2 (com 3 gols inesquecíveis e dolorosos para nós, brasileiros, do italiano Paolo Rossi), um dos craques brasileiros daquela seleção, Zico, afirmou que aquela derrota era ruim não apenas   para o Brasil, mas para o futebol como um todo, pois a partir dali, se estabeleceria a ideia de que o importante era vencer, não importava como. 
Essa é a ideia que fica com as vitórias eleitorais do PT. É a mesma ideia do PSDB, DEM, PMDB, PP, de qualquer partido burguês. O importante é vencer a eleição de outubro, não importa com que programa, não importa com que candidato, não importa com que aliados. O que importa é VENCER!
Esta lógica, impregnada em TODOS os partidos da esquerda oficial* - PT, PCdoB, PSB, PDT, PV, PPS - serve apenas para confundir as consciência da classe trabalhadora, fazendo com que nossa classe não distinga efetivamente no processo eleitoral quem são os lutadores dos traidores de classe e, mais ainda, dos exploradores. Assim, cada vez mais nas eleições que ocorrem a cada dois anos em nosso país, o poder econômico determina quem são os eleitos.
A aliança Lula-Maluf em São Paulo é apenas a ponta do iceberg da picaretagem em que se transformou a política nacional. Lula, que anos atrás, denunciou a existência de 300 picaretas no Congresso Nacional, não apenas é um desses como se associa a um dos líderes desses 300 que, com certeza, são bem mais isso. A aliança Lula-Maluf é um tapa na cara de todos os lutadores que construíram o PT acreditando estar construindo uma ferramenta de luta e assistem sua maior liderança entregando o partido a um dos maiores corruptos da história recente do país. O apoio de Maluf ao PT em São Paulo é um abuso às mulheres petistas que assistiram ao longo dos anos o crescimento da violência contra a mulher, enquanto Maluf afirmava: "estupre, mas não mate!" A aliança Lula-Maluf é uma afronta aos trabalhadores que lutaram contra a ditadura e enfrentaram a dura pressão da PM dirigida por Maluf naqueles tempos. Tudo isso é o que representa esta aliança espúria em São Paulo.
Interessante é a postura do PSB  e de Erundina neste episódio. Para alguns, Erundina e o PSB se saíram bem no caso. Porém, se ambos fossem classistas, teriam uma postura bem diferente da que tiveram. Não apenas teriam denunciado duramente a aliança, como teriam se retirado desta. Mas não foi isso que ocorreu. Erundina chiou, a direção nacional do PSB também, ela se retirou da condição de vice de Haddad, porém o PSB continua na coligação com o PT/PP. Ou seja, se vencer a eleição, Erundina estará junto com Lula e Maluf administrando São Paulo, ou seja, mamando nas tetas da prefeitura. Assim é bom, né?
Para concluir, e para mostrar a todos/as como Lula-Maluf contribuem de maneira decisiva para tornar o mundo da política mais detestável aos olhos do povo, vejamos duas frases feitas pelos dois, em épocas distintas.

"Perto do Lula e do Fernando Henrique Cardoso, eu me considero comunista".
Paulo Maluf, em crítica ao governo federal, em 2007.


"O símbolo da pouca-vergonha nacional está dizendo que quer ser presidente da República. Daremos a nossa própria vida para impedir que Paulo Maluf seja presidente".
Luiz Inácio Lula da Silva , no Comício das Diretas Já, na Praça da Sé, em 1984.


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