Jornada Nacional de Lutas, Brasília, 24/08/2011

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

A crise política no PT/JP, sua repercussão na candidatura de Anísio Maia e em uma parcela da esquerda militante da Paraíba




Desde o início da atual campanha eleitoral deste ano em João Pessoa, assistimos uma polêmica que vem atravessando o interior do principal partido da esquerda na Paraíba e que, por isso mesmo, repercute em boa parte dos movimentos sociais em todo o Estado. Trata-se do debate acerca da manutenção ou não da candidatura do deputado estadual Anísio Maia à PMJP e, caso isso não ocorra, o apoio do PT local ao projeto político do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), novamente candidato a prefeito da capital paraibana nestas eleições municipais. 

Tal polêmica vem gerando vários capítulos ao longo dos dias, antes mesmo da campanha eleitoral propriamente dita ter início. Ainda durante o processo de articulação das chapas para a disputa eleitoral, esta já vinha ganhando contornos relativamente acirrados e que acentuou-se após passado o prazo das convenções partidárias e a regularização de tais chapas na Justiça Eleitoral, com seus respectivos registros. 

Inicialmente, o PT/JP registrou a candidatura de Anísio Maia com o vice do PCdoB, Percival Henriques, tendo Ricardo Coutinho feito o seu registro de chapa, tendo como vice de chapa sua colega partidária, a professora universitária aposentada Paula Frassinete, também do PSB; posteriormente, Paula Frassinete renunciou à sua condição de vice na chapa e o PSB anunciou o petista Antonio Barbosa como o vice de Ricardo Coutinho, gerando uma crise no interior do partido da estrela vermelha na Paraíba.

Tal crise prosseguiu com ataques políticos e pessoais por conta da presença de Antonio Barbosa na chapa do PSB, mas foi definida com a decisão do TRE/PB, que manteve a candidatura do deputado estadual Anísio Maia pelo PT e forçou Ricardo Coutinho e o PSB a procurarem um novo vice para comporem sua chapa. Novamente, o partido da pomba branca da paz buscou a professora Paula Frassinete para cumprir este papel.

Neste meio tempo, surge uma outra novidade nesta polêmica que, em nossa avaliação, coloca tal debate em novo patamar e influencia não apenas tal confronto político entre os partidos citados e suas candidaturas, mas também os movimentos sociais na Paraíba e algumas outras candidaturas já postas no atual processo eleitoral, em maior ou menor grau, como trataremos a seguir.

Estamos falando da decisão da Executiva Nacional do PT que, em reunião ocorrida no dia 14 de outubro deste ano em São Paulo, deliberou por maioria de votos de seus membros, intervir no Diretório Municipal do PT/JP até o final deste ano. Tal decisão repercute diretamente no futuro da candidatura de Anísio Maia à Prefeitura de João Pessoa este ano.

A Comissão Interventora Nacional já foi constituída e possui 5 integrantes, sendo 2 diretamente ligados à Executiva Nacional do PT: o deputado federal Paulo Teixeira e a secretária de organização nacional do partido, Sônia Braga. Os outro 3 são da Paraíba - o advogado Cícero Gregório Legal, assessor ligado ao ex-deputado e hj secretário estadual do governo João Azevedo, Luiz Couto; o também advogado Alexandre Guedes e Nierley Karine -.

Segundo o presidente da Comissão Interventora, Cícero Gregório, a meta é retirar a candidatura de Anísio Maia à PMJP. "Vamos tentar fazer com que eles (do Diretório Municipal) entendam que o momento é de fortalecer o campo progressista, reforçando a candidatura de Ricardo Coutinho que é o único neste momento capaz de fazer o enfrentamento com a direita e a extrema direita em João Pessoa, disse Gregório, citando o avanço dos candidatos bolsonaristas na capital paraibana" (http://blogs.jornaldaparaiba.com.br/suetoni/2020/10/15/interventor-do-pt-pede-exoneracao-do-estado-e-poe-retirada-da-candidatura-de-anisio-como-meta/).

Porém, tais intenções têm sido sucessivamente barradas pela Justiça Eleitoral, tanto na Paraíba quanto em Brasília. Em 15 e 16 de outubro deste ano, matérias da imprensa local destacaram que, tanto o TRE/PB quanto o TSE rejeitaram recursos feitos pela direção nacional do PT buscando derrubar a candidatura de Anísio Maia para, com isso, pavimentar o caminho do apoio da legenda na capital paraibana à do ex-governador Ricardo Coutinho em sua caminhada ao Paço Municipal pela 3ª vez, como é de seu desejo.

Tal desejo não se resume apenas a Ricardo Coutinho e ao PSB. Há setores do PT que também apoiam esta ideia, especialmente do movimento sindical. Mas, também há setores no PT que se opõem ferrenhamente a esta tentativa de Ricardo Coutinho e do PSB em retirar a candidatura de Anísio Maia. E de vários setores, além do movimento sindical. O PT/JP, assim como boa parte dos movimentos sociais na cidade, está dividido ao meio com esta polêmica. A divisão é tão grande no interior do partido que há candidatos a vereador na legenda defendendo a candidatura de Ricardo Coutinho.

Evidentemente que isso repercute em algumas outras candidaturas postas na disputa eleitoral, especialmente as mais ligadas ao PT e também ao PSB, em especial a de Ricardo Coutinho. Falamos do PSOL e da UP, que possuem Ítalo Guedes e Rafael Freire como seus candidatos à PMJP, respectivamente.

Creio que o PSOL, neste debate, sofra mais pressões políticas do que a UP. Pela repercussão nacional e a relativa importância que este partido possui em nível nacional. Tanto que, segundo alguns portais locais, um dos elementos desta pressão vem de São Paulo, aonde há um movimento para que o candidato do PT à Prefeitura da principal metrópole do país saia da disputa para apoiar a candidatura do PSOL, que tem Boulos na disputa em melhores condições nas pesquisas neste momento do que o petista (http://blogs.jornaldaparaiba.com.br/suetoni/2020/10/15/interventor-do-pt-pede-exoneracao-do-estado-e-poe-retirada-da-candidatura-de-anisio-como-meta/). Em isso ocorrendo, como  não acreditar numa pressão tremenda sobre o PSOL de João Pessoa???

Um outro elemento nesta polêmica. Caso a retirada da candidatura de Anísio Maia continue não surtindo efeito, apesar das pressões da Comissão Interventora para que isso ocorra, esta pode fazer com que esta fique "estrangulada" ao ponto de não receber recursos para se manter e continuar a fazer o mínimo possível para se manter na disputa eleitoral.

Para concluir: embora os petistas de João Pessoa não gostem de lembrar-se deste fato, o desfecho dessa "novela petista" na "Cidade das Acácias" era previsível". Basta relembrar o que ocorreu no Rio de Janeiro, em 1998, quando o PT nacional interviu no partido no Rio de Janeiro e barrou a candidatura do petista Vladimir Palmeira para apoiar Anthony Garotinho ao governo do Estado naquela ocasião. Se fizeram isso num Estado como o Rio de Janeiro, com uma figura histórica da esquerda brasileira como Vladimir Palmeira, porquê relutariam em fazer algo semelhante em João Pessoa???

Como diria Marx, "a história se repete a primeira vez como tragédia; a segunda, como farsa". Isso é o resumo da história do PT em João Pessoa!!!

 

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