No dia 19 de agosto próximo passado, celebrou-se o Dia do/a Historiador/a, aquele/a profissional que estuda e pesquisa nosso passado histórico para, com base nos dados obtidos, nos fornecer uma explicação do nosso passado e de porquê nos encontramos desta maneira no presente e podermos, assim, projetarmos algo para nosso futuro que se avizinha. Como professor de História, formado pela UFPB em 1997 (com muito orgulho, diga-se de passagem), que é o profissional encarregado de pegar estes dados pesquisados e colhidos pelo/a historiador/a através de seu profícuo trabalho e, consequentemente, de repassá-los aos/às alunos/as em nossas escolas, nos sentimos em dado momento, a fazer este trabalho não apenas para as pessoas em geral, mas para um público específico, no caso em tela, os militantes organizados de esquerda (alguns, pelo menos) que insistem em sofrer de APP – Amnésia Política Proposital -, e pior, de contaminar outras pessoas com esta doença.
Fizemos
este preâmbulo para iniciarmos, com este artigo, uma série de outros artigos
que faremos sobre as eleições municipais deste ano, seja no Brasil, seja na Paraíba.
De início, começaremos analisando alguns partidos políticos que estão nesta
disputa, do campo da classe trabalhadora, que é o que nos interessa. Depois,
analisaremos algumas disputas municipais que estão se desenrolando.
Começaremos
esta série com o PSOL, um partido que vem sendo muito debatido no último
período. Veremos, ao final do artigo, como em apenas 20 anos de existência, o PSOL
conseguiu se transformar da “água para o vinho”, como diz o relato bíblico.
O
PSOL surge em 2004, na esteira das lutas da classe trabalhadora, em especial
dos servidores públicos federais, que passaram 8 anos de suas vidas sofrendo
(literalmente) com as ações do nefasto e
entreguista governo FHC – apoiado, naquela ocasião, pelo então governador
de São Paulo, Geraldo Alckmin, na época do PSDB, hoje, vice de Lula, apoiado
pelo PSOL – e, no Congresso Nacional, 4 parlamentares do PT (a senadora Heloísa
Helena e os deputados Babá, João Fontes e Luciana Genro, representando Alagoas,
Pará, Sergipe e Rio Grande do Sul, respectivamente) discordavam das orientações
das lideranças do governo Lula tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados
e, com o tempo, do próprio governo, fazendo com que isso culminasse num
processo de ruptura destes com o PT, fazendo com que estes fossem expulsos do
partido e fundassem, alguns meses depois, o PSOL. Portanto, o PSOL surge de uma
insatisfação legítima com os rumos do
governo Lula, ainda no seu 1º mandato, mas com a limitação de ser de dentro do parlamento.
Por conta dessa limitação no seu nascedouro, os deputados que estavam a romper
com o PT e afirmavam na época que não pretendiam “boicotar o governo Lula” (https://movimentorevista.com.br/2023/12/20-anos-do-dia-dos-radicais/).
Porém,
em junho de 2022, uma série de militantes do PSOL publica uma carta de ruptura
com o partido onde, neste documento público, faz sérias avaliações sobre a
condução do partido e chega a registrar uma grave acusação contra a direção
nacional do PSOL. Nesta carta de ruptura, os antigos militantes afirmam,
textualmente, que “....A direção do
PSOL abandonou seu programa, aliando-se a setores inimigos da nossa classe;
abandonou seu método político e suas ferramentas de deliberação formal;
destruiu a estratégia de nucleação como ferramenta de capilarização social e
política, abandonando assim o grande contingente de militantes do partido;
ignorou sistematicamente as deliberações e resoluções dos setoriais para
apresentar posições políticas contrárias às debatidas no partido; abriu um processo
de supressão da proposta histórica do partido com a formação de uma federação
com a Rede, sem nenhum debate, sem chamar nenhuma instância maior do que o
castelo de cartas marcadas da direção nacional, e, por fim, abriu um processo
de silenciamento coletivo de todas as posições diferentes dentro do partido. A
direção rompeu com o método, com o programa e com as políticas históricas do
PSOL”. Com isso, admitem adiante que “...É hora de buscar novos rumos”.
Alguns
militantes mais reticentes podem afirmar que tais críticas ao PSOL são coisas
antigas, do passado, típicas de inveja de pessoas com o crescimento do partido
no último período. Para estes/as, vamos para os dias atuais, já que eles não se
contentam com o exemplo histórico.
Em
São Paulo, na atual campanha à Prefeitura da capital mais importante do país, o
candidato do PSOL, Guilherme Boulos, chamou para compor sua equipe de elaboração
de programa o coronel da reserva, Alexandre Gasparian, ex-chefe da ROTA –
Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar -, grupo da PM/SP criado no regime militar especializado
em reprimir com violência e truculência as manifestações populares e da classe
trabalhadora. Não à toa, o programa de governo de Boulos para a Prefeitura de São
Paulo propõe dobrar o efetivo da GCM paulistana. E o preto, pobre e que mora
na periferia desta cidade sabe perfeitamente o que isso significará: mais repressão e morte para esta galera.
Simples assim.....
Se
você acha que esse tipo de situação ocorre apenas em São Paulo, está
redondamente enganado. Na Paraíba, NÃO
é diferente. Matéria do site do “Jornal da Paraíba” revela, em sua manchete,
uma contradição do PL em nosso Estado, mas quando lemos detidamente a referida
matéria, percebemos que a contradição pertence também ao PSOL, que se
reivindica um “partido de esquerda”. Eis o link da matéria: https://jornaldaparaiba.com.br/politica/alem-de-pt-pl-tem-coligacoes-com-federacao-psol-rede-em-cidades-da-paraiba.
Como vocês poderão ver, o PSOL na Paraíba está coligado em Mamanguape a
partidos como PL, PSD e MDB, dentre outros; e, em São José de Piranhas, junto
de PL e Republicanos. E isso se dá numa conjuntura em que o PSOL aprovou uma
resolução de tática eleitoral para 2024 que diz, entre outras, que “Prioridade
na unidade de esquerda e centro-esquerda para derrotar o Bolsonarismo; buscando
sempre que possível liderar a unidade ou garantir melhores condições para o
PSOL na disputa majoritária com a vice”; “Onde não for possível unidade, lançar
candidaturas do PSOL que posicionem o partido prioritariamente contra a direita
ou extrema-direita”. Foi com base neste discurso, “de combater e derrotar a
extrema-direita” em João Pessoa que o dirigente estadual do PSOL/PB, Tárcio
Teixeira, fez de tudo para o partido abandonar a candidatura própria de Celso Batista
à PMJP e passar a apoiar a candidatura de Luciano Cartaxo, do PT. Parece que
Tárcio não conseguiu convencer seus companheiros de partido em Mamanguape e São
José de Piranhas a "combater e derrotar a extrema-direita"......
Como
afirmamos no início do artigo, o PSOL, foi construído há 20 anos para ser um partido
diferente do PT. Hoje, não apenas está junto e misturado ao PT como, em vários
momentos, chega a ser uma “corrente externa” do PT (ou um “puxadinho”, como
dizem alguns, de forma pejorativa). De todo modo, o PSOL de hoje não tem nada a
ver com o seu sentimento na época de fundação. É outro PSOL, é outro partido.
Só não vê quem não quer...........