Reproduzimos abaixo um texto do professor militante da ADUFCG, Luciano Mendonça, sobre a greve nas Universidades Federais, que já começou com uma força impressionante, mostrando por um lado a força da categoria e, por outro, a revolta deste setor com a política educacional implementada pelos sucessivos governos. Vale a pena ler e conferir.
A
greve nas universidades federais e a luta pela dignidade da profissão docente
Luciano Mendonça de Lima*
De resto, todo colapso traz consigo
desordem intelectual e moral. É necessário criar homens sóbrios, pacientes, que
não se desesperem diante dos piores horrores e não se exaltem em face de
qualquer tolice. (Antonio Gramsci, 1891-1937)
Na
quinta-feira, 17 de maio de 2012, os professores das Instituições Federais de Ensino
Superior entraram em greve por tempo indeterminado. Na raiz do movimento se
encontra a profunda insatisfação de parcela significativa da categoria com os
rumos da universidade brasileira.
A
faceta mais visível deste perverso quadro é o atual processo de expansão das
IFES, que nos últimos anos tem aprofundado a precarização do trabalho acadêmico
em todas as suas dimensões, expresso no arrocho salarial, na mercantilização do
conhecimento e em jornadas laborais que beiram o limite do esgotamento físico,
mental e emocional. Essa realidade foi muito bem captada pelo nosso sindicato
nacional, o ANDES-SN, que em seu 31° Congresso, realizado na cidade de Manaus-AM,
entre os dias 15 e 20 de janeiro de 2012, já apontava para o protagonismo dos
docentes na luta por melhores condições de vida e trabalho e na defesa de uma
universidade pública, gratuita e de qualidade socialmente referenciada.
Depois
de mais um começo de ano em que o processo de negociação de nossa pauta de
reivindicações se viu frustrado, em função da postergação e intransigência do
governo federal, não nos restou alternativa, a não ser apostar no processo de
mobilização da categoria. Assim foi feito, com rodadas nacionais de assembléias
que aprovaram majoritariamente a data de 17/05/2012 para o início da greve.
Na
UFCG, as três Associações Docentes (ADUFCG, ADUFCG-Patos e ADUC), bem como os
docentes dos campi de Cuité, Sousa,
Pombal e Sumé, cumpriram à altura com os desafios postos pela conjuntura. Em todos os campi da UFCG, diferentes
atividades de mobilização foram organizadas, culminando com a realização de
assembléias no período imediatamente anterior ao da deflagração da greve, a
maioria delas com participação massiva dos docentes. Após esse processo de
mobilização, os docentes da UFCG, de forma coletiva e democrática, decidiram pela
adesão à greve nacional.
Em
Campina Grande a greve começou muito bem, apesar de alguns problemas pontuais.
Logo na manhã do dia 17/05/2012 foi realizado um ato público na entrada
principal da UFCG, com distribuição de um panfleto de esclarecimento à
comunidade universitária e à sociedade campinense. Ato contínuo, o Comando
Local de Greve foi instalado, para isso contando com a representação de
professores de diferentes Unidades Acadêmicas, sob a coordenação de membros da
diretoria da ADUFCG.
O
ponto alto do primeiro dia de greve ainda estava por vir. É que para aquele
mesmo dia havia sido convocada a reunião mensal do Colegiado Pleno, a mais
importante instância deliberativa da UFCG, constituída por representantes dos
professores, alunos e servidores técnico-administrativos da instituição. Conforme
deliberação da assembleia dos docentes da UFCG do dia 15/05, que aprovou, por
unanimidade, a deflagração da greve, o Presidente da ADUFCG, Professor Gonzalo A.
Rojas, apresentou a proposta de transformar a pauta ordinária da citada reunião
em pauta extraordinária da greve. A propositura foi acatada pelo plenário. Após
um rico processo de discussão (que, diga-se de passagem, contou com um número
expressivo de membros da comunidade universitária), foi aprovada, por
unanimidade, uma moção de apoio à
greve dos docentes das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES).
Por
seu conteúdo e significado, este fato deve se destacado. Embora seja o mais
importante órgão de deliberação coletiva da instituição, historicamente o
Colegiado Pleno vinha sendo omisso ou resistente aos movimentos reivindicatórios
dos segmentos que representa, em função do mesmo sempre ter gravitado sob a
órbita de influência das forças que até hoje administram a universidade. Desta
vez o Colegiado Pleno agiu diferente, se mostrando sensível à movimentação democrática
dos diferentes segmentos da comunidade universitária, pois não só apoiou e
reconheceu a justeza da pauta de reivindicações dos docentes como também repudiou
qualquer forma de coerção ao legítimo e inalienável direito de greve dos servidores públicos, aí inclusos os professores.
Também, na perspectiva de tranquilizar a comunidade discente, aprovou a suspensão
do calendário escolar, tornando assim ilegal qualquer atividade acadêmica, por
ventura, desenvolvida durante o período da greve.
A
reação a essa decisão não se fez demorar. Já no dia seguinte, conhecidos e
conservadores setores da UFCG, mesmo que travestidos do discurso da
meritocracia, não só tentaram “furar” a greve (desrespeitando uma decisão coletiva
da categoria da qual formalmente fazem parte), como buscaram desqualificar a
decisão daquele que é o órgão responsável por traçar a política geral da UFCG.
Este fato bem demonstra o caráter reacionário dessa gente mal acostumada com a
democracia, que só respeita decisão coletiva quando é conveniente aos seus
interesses particulares, que se acha superior até mesmo ao Colegiado Pleno da
instituição. A atitude dessa minoria conservadora e egocêntrica deve ser
repudiada pelas forças democráticas da UFCG, pois não contribui para a
construção de uma universidade e de uma
sociedade justa, solidária, democrática e libertária, mas para a lembrança
dos tempos sombrios de terror e de autoritarismo em nosso país.
Se
a nossa greve já tinha legitimidade mais do que suficiente para ser deflagrada,
tendo em vista o descaso com que os docentes federais vêm sendo tratados pelos
últimos governos, a decisão do Colegiado Pleno reforçou ainda mais essa
tendência, dando um exemplo de maturidade política que já repercute em todo o
país.
Daqui
por diante resta intensificar a mobilização interna entre a categoria e ampliar
o apoio da sociedade civil para que assim possamos dobrar a arrogância do
governo e seus aliados e assim lograr a conquista dos nossos direitos e da
nossa dignidade profissional.
*
Professor da UAHis, representante docente do CH no Colegiado Pleno/UFCG e membro
do Comando Local de Greve/ADUFCG.
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