Em 20 de novembro do ano passado, publiquei neste mesmo espaço um artigo intitulado "A burocracia sindical cutista do SINTEP mostra suas garras sobre a democracia". Neste, denunciava o golpe que o setor majoritário da direção do SINTEP havia aplicado na categoria dos profissionais da Educação estadual quando, no dia anterior, aprovara em Assembleia mal convocada nas bases - ou convocada nas bases que interessavam à burocracia - modificações no Estatuto da entidade com o objetivo claro de dificultar ainda mais a possibilidade da Oposição poder disputar em mínimas condições que fosse a direção desta importante entidade de classe de nosso Estado. Naquele artigo, depois de analisar todo aquele episódio e seus possíveis desdobramentos, concluía do seguinte modo, que passo a transcrever na íntegra:
"Avalio que este é um excepcional momento para a Oposição SINTEP se afirmar perante a categoria como uma alternativa clara. Se não souber aproveitar o momento, podem ficar certos, a burocracia saberá aproveitar. E aí reside o problema!"
Pois bem, meus amigos e amigas, como em política não existe espaço vazio, a burocracia encastelada no SINTEP há mais de 20 anos soube aproveitar muito bem o momento não ocupado pela Oposição SINTEP e aplicou mais um golpe. Desta vez, um SUPERGOLPE não apenas na Oposição mas na categoria de conjunto.
O golpe só foi sentido na última sexta-feira, 18 de fevereiro, quando da realização da Assembleia Geral para discutir os ataques do novo governo RC à categoria - para todos/as perceberem como foi um golpe muito bem arquitetado por Antonio Arruda e sua turma -. Lá, a Assembleia tomou conhecimento de que, no dia 10 de janeiro deste ano - uma singela segunda-feira de verão paraibano - houve uma Assembleia no auditório do Sindicato e nesta elegeu-se a Comissão Eleitoral - presidida pelo sempre prestativo professor José Mário, que no Estado é oposição a RC mas no município de JP é um fiel aliado de Luciano Agra e também de RC, na época deste -, como também definiu a data das eleições para a renovação da diretoria. Além disso, no mesmo dia em que foi eleita, a competente Comissão Eleitoral definiu, em reunião, a data de inscrição de chapas que, por uma coincidência dessas que ocorrem em nossas vidas - às vezes, chego a me surpreender com a quantidade de coincidências que ocorrem nossas vidas, não acham? - encerrou seu prazo no dia 10 de fevereiro, uma semana antes da Assembleia Estadual.
Saindo do campo das coincidências, vamos aos fatos. O que a direção majoritária do SINTEP fez, tendo à frente o sr. Antonio Arruda, é de causar inveja aos Mubarak's da vida. Pois convocar uma Assembleia com essa importância no período em que a categoria está de FÉRIAS COLETIVAS não pode receber outro nome a não ser GOLPE. E dos mais sujos que possa existir. Mas essa atitude de Arruda e Cia. tem uma explicação histórica.
A burocracia sindical é um fenômeno histórico que não é novo e muitos já a estudaram com mais ou menos profundidade. Um dos que mais se dedicaram a estudar este fenômeno social foi o líder revolucionário russo Leon Trotsky. Trotsky afirmava que "é preciso abrir os sindicatos aos operários de todas as tendências, mantendo-se a disciplina na ação. Toda pessoa que transforma os sindicatos em uma arma destinada a fins exteriores (em particular com instrumento da burocracia stalinista e do imperialismo "democrático") divide inevitavelmente a classe operária, a enfraquece e abre as portas à reação. Uma completa e honesta democracia no interior dos sindicatos é a condição mais importante para a democracia no país" (grifo nosso). A burocracia, como algo que surge da própria classe, é algo muito difícil de ser identificada pelos elementos da classe, pois ela de forma superficial incorpora em seu discurso a luta de anos da categoria e as conquista do setor, mas ela já há muito não trabalha por isso, a não ser para manter seus próprios benefícios enquanto burocracia.
Isso passa a ganhar força no Brasil a partir dos anos 90 quando a CUT começa a modificar sua concepção de sindicato como organizador das lutas e, para isso, utilizando-se do método da democracia direta, passa a adotar a fórmula do "Sindicato Cidadão". A burocracia vai ampliando seus espaços dentro da máquina sindical, afastando as bases das principais decisões a serem tomadas. Assim, assistimos ao contínuo esvaziamento das lutas sindicais desde então. Ao mesmo tempo, as lideranças sindicais vão, via de regra, sendo cooptadas para o aparelho de Estado, ocupando cargos especialmente nos poderes Executivo e Legislativo, nas três esferas (municipal, estadual e federal), o que só serve para aumentar ainda mais seu poder dentro da estrutura sindical.
Com isso, como revela o estudo de Lorene Figueiredo, Mestre em Educação pela UFF (Universidade Federal Fluminense), intitulado "LUTA DE CLASSES E BUROCRATIZAÇÃO DE DIRIGENTES SINDICAIS FRENTE ÀS REFORMAS ADMINISTRATIVAS EM MINAS GERAIS": "A burocracia tende, portanto, a romper com os valores e os princípios de organização da classe trabalhadora e se tornar antidemocrática, conservadora. A tarefa das lideranças que assumem a forma burocrática deixa de ser organizativa emancipatória e passa a ser representativa e conformativa. As representações das demandas da classe tendem a se restringir aos limites de concessões feitas pelo próprio Estado Burguês e as lideranças da classe devem fazer parecer conquistas de lutas por eles encaminhadas."
Essa é a principal característica da burocracia do SINTEP hoje e de várias outras espalhadas pela Paraíba e Brasil: tornaram-se antidemocráticas e conservadoras. Não admitem, em hipótese alguma, por menor que seja, a possibilidade de perder uma eleição sindical. E mesmo que haja uma Oposição nascente, ainda procurando se formar, a ordem é: não permitir que o bicho cresça! Assim trabalha a burocracia sindical. Ao mesmo tempo, trabalha com o inconsciente de que atuando nos limites da institucionalidade burguesa e conseguindo algo dentro destes limites isso são conquistas suas. Ou seja, numa era de reformismo sem reformas, trabalham em cima das migalhas e posam de revolucionários.
A Oposição SINTEP precisa desmascarar esse discurso e, antes de mais nada, por abaixo o GOLPE aplicado pela turma de Antonio Arruda e Cia. O quanto antes, em prol dos trabalhadores da educação da Paraíba, que precisam há mais de 20 anos de uma ALTERNATIVA!