A edição deste domingo, 28 de julho de 2013, do jornal “Correio
da Paraíba”, traz uma pesquisa sobre a crise da fé católica na Paraíba, no
tocante à quantidade da perda de fiéis desta religião, bem como o ganho de
outras tantas, no momento em que o país viveu uma semana intensa de divulgação
da doutrina católica, com a realização da Jornada Mundial da Juventude, no Rio
de Janeiro, e a visita do papa Francisco.
A pesquisa tem como fonte o Censo 2010 do IBGE e revela números
significativos, mas detectamos dois equívocos na interpretação dos números
feita pela equipe do “Correio da Paraíba”: avaliou-se, por exemplo, que os
evangélicos cresceram 88% no número de fiéis. Porém, não sabemos concretamente
o que significa esse setor “evangélicos” que a equipe do “Correio” classifica,
pois em seguida vem os números de outras religiões que poderíamos classificar
também como tais, a perceber: testemunhas de jeová e os membros da Igreja dos
Santos dos Ùltimos Dias, popularmente chamados de mórmons. Vale ressaltar que
este não é um equívoco apenas da equipe do “Correio da Paraíba”, mas da mídia
em geral e assimilado pelo nosso povo, que classificam os fiéis das igrejas
protestantes como sendo “evangélicos” para diferenciá-los dos católicos quando,
na verdade, os dois são cristãos e evangélicos, pois ambos divulgam o Evangelho
de Cristo, contido no livro bíblico conhecido por Novo Testamento. O outro
equívoco foi em relação às religiões de matriz africana, onde ela separou a
umbanda e o candomblé. Na nossa interpretação, mesmo sabendo das eventuais
diferenças entre as religiões, tanto do campo protestante quando da matriz
africana, decidimos unifica-las exatamente por conta de sua origem.
Deixando essa “polêmica” de lado, vamos aos números divulgados
pelo “Correio” deste domingo, 28/07/13. Segundo o Censo 2010, na Paraíba, houve
uma redução de 0,87% no número de católicos. De 2.924.154 adeptos, a Igreja
Católica passou, em 2010, a ter 2.898.656 fiéis, uma redução de 25498. Para se ter
uma ideia dessa perda, é como se a Igreja Católica na Paraíba tivesse perdido uma
cidade inteira como Areia, por exemplo.. Não é pouca coisa.
No
outro lado da tabela, juntando todo o setor protestante – evangélicos,
testemunhas de Jeová e mórmons - e não apenas o classificado pela equipe
“Correio” como “evangélicos”, tivemos em 10 anos na Paraíba um crescimento de
86,7%, com esse setor passando de 317.511 membros em 2000 para 592.868 fiéis. A
religião espírita teve também um crescimento fabuloso nessa década, de 85,41%,
passando de 12.499 para 23175 adeptos; nas religiões africanas, verificou-se
também na Paraíba um crescimento na Paraíba de 40,8%, com 1704 membros em 2000,
passando para 2399 adeptos em 2010. Vale ressaltar que o candomblé foi o principal
responsável por esse crescimento, segundo o Censo 2010 do IBGE. Essa religião
africana teve um crescimento de 214,3% em nosso Estado na 1ª década do século
XXI. Analisaremos as razões deste detalhe daqui a pouco.
Por fim, um dado bem interessante que o IBGE expressa no Censo
2010. O crescimento do que ele chama de “sem religião”. Poderíamos incluir
neste quesito ateus e agnósticos, mais preferencialmente ateus. Este setor teve
um crescimento de 20,25%, passando de 177.303 membros em 2000 para 213.214 pessoas
em 2010.
O
que significa os números do Censo 2010
A Arquidiocese da Paraíba, em nota, avalia que os resultados
dessa pesquisa do IBGE representam a existência de uma “sociedade de consumo”,
onde “as pessoas são substituídas pelas coisas, pelo dinheiro, pelo poder, pelo
prazer. Nesse tipo de relação desumana, desagregadora, os valores presentes no
Evangelho de Jesus têm pouca ou nenhuma importância”. Para o pastor da Igreja
Cidade Viva, o jovem deve estar ligado a uma fé cristã, pois assim ele se torna
mais participativo. E conclui: “quando você se torna cristão, você muda seus
comportamentos”. O presidente da Federação Espírita Paraibana, Marco Lima,
claro, discorda dessa fala e afirma que as pessoas estão buscando novas
doutrinas que satisfaçam sua necessidade interior. Infelizmente, na matéria do
“Correio da Paraíba”, sentimos falta da fala de alguém ligado às religiões de
matriz africana e de alguém do setor “sem religião”.
Queremos iniciar nossa avaliação pela fala do presidente da
Federação Espírita Paraibana, concordando parcialmente com ele quando diz que
as pessoas buscam algo que satisfaça suas necessidades interiores. Parcialmente
porque ele defende isso no campo da religiosidade (e é natural que assim o
faça, afinal ele é um religioso). Se alguém o questionar a respeito da opção de
alguém por se tornar ateu, muito provavelmente ele não afirmará neste sentido.
Porém, este movimento citado pelo líder dos espíritas paraibanos não é nada
novo, isso remonta aos tempos primitivos, quando a religião começou a existir
na história da humanidade. Foi essa busca por uma resposta a algo desconhecido
que o ser humano começou a se apegar a explicações sobrenaturais, aos deuses
inicialmente até chegarmos ao Deus monoteísta do cristianismo. Tudo para atender
a essas necessidades interiores.
Porém, a crise da Igreja Católica num país como o Brasil, onde
desde sua fundação, esta sempre foi amplamente majoritária – e ainda é, os
números mostram isso – tem relação direta com os fatos amplamente divulgados
pela mídia nos últimos anos com os sucessivos escândalos vividos pela Igreja
Católica: corrupção no Banco do Vaticano, casos de pedofilia no Brasil e em
vários outros países, dentre outros. E o pior, a alta cúpula da Igreja se
comportou da mesma forma que os políticos, escondendo para debaixo do tapete
tais fatos. Só quando a imprensa passou a dar destaque a isso é que a Igreja
Católica passou a tomar iniciativas em relação a isso.
Esse é um fator importante para a quebra do número de fiéis da
Igreja Católica para outras religiões, especialmente as protestantes. Porém,
essas também não estão imunes a escândalos tão graves quanto os vividos pela
Igreja Católica, como recorrentes casos de desvios de dinheiro, casos de
escândalos sexuais, de algumas das igrejas desse setor.
Um fato que precisa ser registrado aqui é o crescimento de uma
das religiões de matriz africana, o candomblé. Esta, entre 2000-2010, cresceu
214,3% na Paraíba. Sozinha, foi a religião que mais cresceu, em números
relativos. Em nossa avaliação, uma das razões para tal crescimento tem a ver
com a postura respeitosa das religiões de matriz africana em relação a temas
considerados muito polêmicos para as demais religiões, especialmente as
cristãs, como a questão da homossexualidade, por exemplo. Esse posicionamento do
candomblé, da umbanda e demais religiões desse setor têm feito com que muitos e
muitas tenham se dirigido até elas.
Porém, a crise da fé religiosa, como um todo é um sinal da
crise do capitalismo. Não podemos nos esquecer que a religião é um dos pilares
ideológicos da manutenção do capitalismo, na perspectiva de perpetuação do status
quo. As doutrinas religiosas, via de regra, têm servido ao longo da
História, para manter os regimes de pé, para manter a dominação de classe viva.
No capitalismo não é diferente. É bem verdade que há pessoas religiosas que têm
compromisso com a luta do povo, e essas são sempre muito bem vindas, são nossas
aliadas.
Aliás, esse é um ponto importante de nossa avaliação. Não há
nem nunca houve, nenhuma orientação de que para fazer parte da luta socialista,
que o/a militante deva ser ateu/atéia. Muito pelo contrário, como citamos
acima, existem muitos/as lutadores/as do povo que são fiéis de várias crenças
religiosas e assim são bem vindas à luta popular. Rechaçar essas pessoas à
nossa luta é de uma estupidez total. Relacioná-las ao significado ideológico da
Igreja Católica é outra estupidez e só nos afasta daqueles e daquelas que
podem, efetivamente, nos auxiliar na difícil tarefa de construir a revolução
socialista em nosso país.
Feito esse parêntese importante, voltemos ao tema principal de
nosso artigo: a crise da fé religiosa, especialmente a da fé católica em nosso
país, e em especial, na Paraíba.
A falta de perspectiva, de futuro, encarada pelas pessoas a
cada dia que passa, é um dos fatores decisivos para a crise atual da sociedade
capitalista. Assim, assistimos ao alto número de jovens se entregando ao mundo
das drogas, ao crescimento desenfreado da violência urbana – com a vida cada
vez mais banalizada -. Assim, uma das válvulas de escape é a ida para outras
religiões, fora a Igreja Católica, que não tem conseguido dar respostas a essa
nova situação, por conta de sua estrutura secular, engessada. O novo papa já
afirmou, desde a posse, que pretende dar uma nova dinâmica à Igreja Católica,
adequando-a a esses novos tempos. Esse será um grande desafio para ele, pois a
Igreja Católica é uma instituição secular e, portanto, extremamente difícil de
ser modificada nas suas estruturas internas. Daí a razão do crescimento das
outras religiões.