A história da classe trabalhadora é recheada, desde seu início, de exemplos de companheiros e companheiras que marcaram suas trajetórias construídas com referências na luta da classe mas, que infelizmente, desviaram seus caminhos acreditando que, pelo viés do parlamento burguês poderiam levar nossa classe à vitória e à conquista de uma sociedade pela qual nossa classe luta há séculos, a sociedade socialista. Infelizmente, tal caminho só tem levado os/as trabalhadores/as a desviar o foco de nossa luta e, consequentemente, a inúmeras e seguidas derrotas, sem falar nas inúmeras ilusões semeadas nas milhões de consciências em todo o mundo ao longo de anos e anos.
Estamos assistindo a este lamentável filme, mais uma vez entre nós, com mais um militante que construiu sua trajetória durante anos na luta de nossa classe. Recentemente, no dia 30/03 deste ano, o professor Nélson Júnior, da UEPB, ex-presidente da Associação Docente desta instituição de ensino estadual, que militou durante anos no PT e depois no PSOL, aonde candidatou-se ao Senado por este partido nas últimas eleições, lançou uma Carta Pública aonde rompe com este partido e anuncia sua filiação democrática ao PCdoB para candidatar-se à Câmara Municipal de Campina Grande nas próximas eleições municipais. Nada demais, a não ser tratando-se de quem é, de seu histórico militante e do partido ao qual este decide agora filiar-se e das razões expostas para tal.
Antes de tecermos tais considerações acima colocadas, queremos fazer algumas questões anteriores. Nélson Júnior se apodera de um conceito colocado por setores da esquerda socialista, como filiação democrática, para justificar seu ato a um partido que em nada tem de coerente com sua atitude. Ele avalia se filiar ao PCdoB e romper com o PSOL única e exclusivamente porque não enxerga neste a possibilidade de se eleger a vereador em Campina Grande apesar de ter se colocado "à disposição para contribuir com a organização partidária, o que infelizmente não avançou", segundo trecho de sua Carta Pública, no período em que ele se dedicou à tarefa.
Consequentemente, avalia que "no momento, o melhor caminho a seguir é o deslocamento dos 2 ou 3 nomes do PSol que pretendem disputar um mandato de Vereador para um outro partido do campo e assim, somando forças, conquistarmos mandatos com o perfil da esquerda combativa". Este campo e esta "esquerda combativa" a que Nélson Júnior e o PSOL se referem é, além do PCdoB, outros partidos como PT e UP (antigo PCR).
Percebe-se, por estas palavras, que a decisão de Nélson Júnior não é exclusivamente pessoal, mas faz parte de um projeto coletivo do PSOL de Campina Grande, e porque não dizer, do partido estadual. Isso fica mais claro noutra parte de sua Carta Pública, quando ele relata que "(...) nesta perspectiva, e em sintonia com deliberação do Diretório Estadual do PSOL, entendo que a filiação democrática é a melhor alternativa para dar conta dos desafios partidários e eleitorais no momento. Assim, neste contexto, compreendo que o PCdoB de Campina Grande apresenta-se como a melhor opção para esse processo de disputa eleitoral", afirma Nélson Júnior nos instantes finais de seu documento político.
Tão ou mais grave que tudo isso abordado pelo professor universitário é a caracterização feita por este acerca do que significa o PCdoB. Quem não o conhece ou nunca militou com ele ao longo de anos, como este que escreve este artigo, não reconhece Nélson Júnior. Segundo este, o "PCdoB, ao longo de um século de vida tem mantido a coerência com os seus princípios fundantes (...)". Perguntamos a Nélson Júnior, ao PSOL e a todos/as: faz parte dos "princípios fundantes" do PCdoB a defesa do novo Código Florestal, aprovado quando Aldo Rebelo era ministro do governo Lula, filiado a este partido e que o fez aprovar sob protesto dos grupos ambientalistas e aplausos do agronegócio e ruralistas??? Faz parte destes mesmos "princípios fundantes" do PCdoB a defesa das MPs 664 e 665 do governo Dilma, que destruiu direitos trabalhistas como auxílio doença, pensão por morte, seguro-desemprego, entre outros, apoiado por este partido no Congresso Nacional??? Ao que me parece, nestes episódios (só pra citar estes mais recentes de nossa história), o PSOL e Nélson Júnior se posicionaram de forma veementemente contrários. Pelo visto, ambos foram tomados de APP (Amnésia Política Proposital), doença muito comum em vários militantes nos últimos anos!!!
Não podemos deixar de perceber que isto faz parte de uma crise nacional que Nélson Júnior e o PSOL PB compõem um cenário desta crise pela qual este partido passa hoje por conta da questão que este vive por conta do pedido de impeachment de Bolsonaro.
É sabido por boa parte da militância que um setor da bancada no Congresso do PSOL entrou com um pedido de impeachment de Bolsonaro e que isso não é unanimidade dentro do partido. O deputado federal Marcelo Freixo, pré-candidato do partido à Prefeitura do Rio, já se posicionou contrário a esta atitude e parte da direção nacional do partido também não concorda com isso. A Carta Pública de Nélson Júnior não deixa clara sua visão acerca deste assunto, mas com certeza há um debate interno dentro da corrente da qual ele faz parte no interior do partido - APS - e isso deve repercutir na organização em nosso Estado.
Além disso, impressiona o acordo político existente entre as direções do PSOL e do PCdoB na Paraíba acerca desse "entrismo" de militantes do primeiro partido no segundo.
Tudo isso faz parte do cretinismo parlamentar e do eleitoralismo defendido pelo PSOL e boa parte da "esquerda oficial", da qual este partido faz parte.
Pra quem não sabe ou não quer se lembrar, cretinismo parlamentar era uma expressão largamente utilizada pelo principal líder da Revolução Russa de 1917, Vladimir Lênin, que afirmava que os oportunistas políticos consideravam o sistema parlamentar onipotente e a atividade parlamentar a única e principal forma de luta política em todas as condições. É desta maneira, de acordo com a Carta Pública divulgada por Nélson Júnior que ele e o PSOL se comportam perante a classe trabalhadora paraibana e campinense.
Demonstram também, desta maneira, uma visão profundamente eleitoreira que ele e o PSOL enxergam a realidade. Preferem abdicar da luta política real, de organizar a classe para transferir tudo isso para a luta parlamentar, para uma disputa eleitoral, jogando a classe para mais uma ilusão eleitoreira, levando-a a acreditar que numa Câmara Municipal seus problemas podem ser solucionados.
Como afirmamos anteriormente, o cretinismo parlamentar e o eleitoralismo já levaram a classe trabalhadora brasileira e mundial a várias derrotas. Nélson Júnior e o PSOL da Paraíba e de Campina Grande levam a classe a construir mais uma. Lamentável!!!
Leia abaixo a nota de Nélson Júnior na íntegra:
Ousar lutar, Ousar vencer!
Por um salto qualitativo da esquerda nas eleições 2020
em Campina Grande.
O momento político que o Brasil vive
é um dos mais difíceis desde a ditadura militar. Somos governados por uma
extrema-direita que tem atuado para destruir a educação pública, o SUS, o
sistema de proteção social e nossos direitos trabalhistas e previdenciários.
Além disso, Bolsonaro é um grande risco a democracia, com suas constantes ameaças
golpista. Como se não bastassem tudo isso, agora ele vai na contramão da OMS e
orienta o fim do isolamento social, o que poderá provocar a morte de milhares
pessoas pelo COVID-19. Essa é a realidade do Brasil hoje, que demanda da
esquerda uma atuação conjunta nas lutas e nas urnas, onde for possível.
É preciso superarmos as divergências
e construirmos convergências que apontem, para a classe trabalhadora, nosso
empenho para suplantarmos a ameaça fascista e garantirmos os direitos que ainda
nos restam.
Essa realidade nacional, não é
diferente em Campina Grande. Esta, é um dos poucos bastiões da extrema direita
no Nordeste, que deu vitória a Bolsonaro já no 1 turno das eleições em 2018. O
Prefeito Campinense, o conjunto do seu grupo político e seus aliados, apoiam as
políticas da extrema direita governista. Esse perfil político é o mesmo da
Câmara de Vereadores, onde a maioria imensa dos parlamentares apoia o governo
municipal e o Bolsonaro. Restam alguns vereadores na oposição, mas sem um
perfil de enfrentamentos e combatividade. Uma Câmara cuja marca da Legislatura
é a doação de terrenos públicos para os apaniguados do Poder, a votação de
matérias para impedir o debate sobre gênero nas escolas, a aprovação de uma Lei
que permite ao prefeito privatizar os serviços de saúde e educação e o aumento
da contribuição previdenciária dos trabalhadores do município para 14%. Uma
Câmara Municipal que assistiu ao Prefeito acabar com a utilidade do terminal de
integração e nada fez, ou pior concordou.
Diante da urgência do quadro
nacional, ancorado por uma realidade cimentada no atraso e no conservadorismo
das elites nacionais, a exemplo das oligarquias campinenses, entendo que os
partidos de esquerda em Campina Grande ( PSOL, PC do B, PT e UP) devem
construir a maior unidade possível para esse processo eleitoral, tanto na chapa
majoritária quanto na formação de chapas de Vereadores, que permita a esse
espectro político eleger uma bancada de Vereadores em Campina Grande com foco
na defesa dos reais interesses da população campinense, sem esquecer o debate
dos grandes temas nacionais que atingem a nós todos.
Assim, passado o Processo eleitoral
de 2018, quando nossa candidatura conquistou 82.153 votos para o Senado e
considerando minha residência em Campina Grande, abrimos o debate com
companheiros da militância do Psol para fixar domicílio eleitoral na rainha da
Borborema, e assim o fiz. Ou seja, mesmo tendo conquistado 25 580 votos em João
Pessoa, fiz a opção de me somar aos companheiros do Psol de Campina Grande,
onde conquistamos 9.920 votos para o Senado, na perspectiva de fortalecer o
partido para o conjunto das lutas que viriam.
Entretanto, observo que, no momento,
o Psol Campinense não conseguiu progredir no seu processo político e
organizativo para dar conta dessa tarefa. Neste aspecto, quero apenas reforçar
que nos últimos 18 meses me coloquei a disposição para contribuir com a
organização partidária, o que infelizmente não avançou.
Diante deste quadro, e considerando
a necessidade da esquerda evoluir na construção de uma bancada na Câmara de
Vereadores de Campina Grande para dar conta das tarefas acima elencadas,
entendo que, no momento, o melhor caminho a seguir é o deslocamento dos 2 ou 3
nomes do PSol que pretendem disputar um mandato de Vereador para um outro partido
do campo e assim, somando forças, conquistarmos mandatos com o perfil da
esquerda combativa.
Nesta perspectiva, e em sintonia com
deliberação do Diretório Estadual do PSOL, entendo que a filiação democrática é
a melhor alternativa para dar conta dos desafios partidários e eleitorais no
momento. Assim, neste contexto, compreendo que o PC do B de Campina Grande
apresenta-se como a melhor opção para esse processo de disputa eleitoral.
A decisão de filiação democrática ao
PC do B é ancorada na importância histórica que tem este partido na luta da
classe trabalhadora brasileira. O PC do B, ao longo de um século de vida tem
mantido a coerência com os seus princípios fundantes e, hoje, quando somos
confrontados com o pior governo da história do Brasil , com um presidente de
perfil neofascista, o PC do B é um dos partidos que está na linha de frente
desse combate, tendo votado no Congresso Nacional em todas as matérias do
interesse da Classe trabalhadora.
É assim, com a alegria de militante
do PSOL, que manterá a mesma linha política na luta social, que hoje caminho
para filiação democrática ao Partido Comunista do Brasil para enfrentar as
tempestades dos meses que virão.
É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar. É melhor
tentar, ainda que em vão que sentar-se, fazendo nada até o final. Eu prefiro na
chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder. Prefiro ser feliz embora
louco, que em conformidade viver.
Martin Luther King
30 de março de 2020, vivendo em quarentena.
Nelson Júnior