O
resultado das eleições presidenciais deste ano em nosso país vem produzindo uma
"onda" de manifestações em determinados locais onde pessoas estão
indo`às ruas pedindo o impeachment de Dilma e a volta da ditadura militar,
coisa que essas pessoas acreditam serem a solução para os problemas do Brasil.
É
bem verdade que essas manifestações são, por enquanto esporádicas e
minoritárias, mas o que nos preocupa é a repercussão e espaço que esse tipo de
manifestação vem ganhando na mídia. É verdade também que esse coro de
"volta, ditadura!" vem das parcelas de nossa população que apostou
suas fichas na vitória do tucano Aécio Neves nas recentes eleições. E, por fim,
é verdade também que a fina flor do tucanato nacional, a começar pelo próprio
candidato derrotado, Aécio Neves, nega de pés juntos concordar com esse tipo de
atitude. Nesse ponto, porém, devemos ficar de olhos e ouvidos bem abertos,
porque dessa gente não se deve acreditar em nenhum momento.
Sobre
a ideia de impeachment de Dilma, que não é o ponto central deste artigo
(falaremos sobre isso em outro momento), é certo que numa democracia burguesa
como a nossa é possível disso ocorrer. Relembremos o caso do ex-presidente
Collor de Mello, que sofreu este duro processo político anos atrás, na esteira
de milhões indo às ruas exigindo que o Congresso Nacional tomasse uma posição
firme sobre as inúmeras denúncias de corrupção havidas no governo
"collorido". Não é esse o caso atual, muito embora as denúncias de
corrupção envolvendo o governo petista sejam tão ou mais sérias do que as
daquele momento histórico nacional. Porém, há uma diferença substancial entre
este instante político e aquele de 1992: as
massas ainda não foram às ruas cumprir o papel que tiveram há mais de 20 anos
atrás. E, enquanto isso não ocorrer, o governo Dilma permanecerá de pé.
Sangrando, mas de pé!
Voltemos
ao tema central deste artigo: as manifestações pró retorno da ditadura militar
no Brasil. Não podemos esquecer que sempre existiu na sociedade brasileira um
setor ansioso pelo retorno do regime de exceção no Brasil. Esse setor era representado
especialmente pelos militares da geração que viveu o período do golpe militar,
liderados pela ESG (Escola Superior de Guerra). Era um grupo extremamente
minoritário, muito embora ainda com alguma influência em extratos da sociedade
civil. Porém, de uns anos para cá, esse setor foi ganhando voz e voto na cena
política nacional, tendo como sua principal liderança o deputado federal pelo
Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro, um ardoroso defensor do regime militar. Não é
qualquer coisa o fato de Bolsonaro ter sido reeleito deputado federal, com a
maior votação entre todos os candidatos num estado como o Rio de Janeiro (quase
meio milhão de votos). E, de quebra, conseguiu eleger seus filhos, Flávio
Bolsonaro (reeleito deputado estadual no RJ) e Eduardo Bolsonaro (eleito
deputado federal por São Paulo). Esses fatos são extremamente preocupantes, a
extrema direita está ganhando corpo na sociedade brasileira e ampliando seus
tentáculos no parlamento.
A
defesa da volta à ditadura militar, na minha modesta opinião. tem duas
explicações: ou a pessoa NUNCA leu um livro de História que seja para
saber o que foi o regime militar no Brasil e na América Latina de conjunto, só
para ficarmos nessa área do planeta; ou então é pura má fé, buscando mais uma
vez iludir nosso povo com promessas mirabolantes, que não irão se concretizar
na prática. Acredito que as manifestações refletem um pouco das duas coisas,
basta ver alguns vídeos desses atos e as declarações de algumas pessoas que
deles participaram pra se ver o nível de argumentação política.
Porém,
nesse meio existem os que lá estão porque REALMENTE defendem o regime de exceção, como os
parlamentares da família Bolsonaro e outros mais. Há também os "bobos da
corte", como o cantor Lobão, que se prestou ao ridículo papel de ser
"MC do golpe". Esses dois tipos de personagens devemos guardar o
máximo de distância possível, muito embora devemos vigiar atentamente seus
passos e pronunciamentos. Ambos têm ressonância em uma parcela da população e,
principalmente, espaços generosos na mídia.
O
líder da Revolução Russa, Lênin, afirmava sobre a democracia que "A democracia burguesa, sendo um grande progresso
histórico em comparação com a Idade Média, continua a ser sempre — e não pode
deixar de continuar a ser sob o capitalismo — estreita, amputada, falsa,
hipócrita, paraíso para os ricos, uma armadilha e um engano para os explorados,
para os pobres" (do livro "A revolução proletária e o renegado
Kautsky). Assim, mesmo com suas limitações expressadas por uma sociedade dividida
em classes, a pior democracia burguesa é melhor do que qualquer ditadura.
Algumas das pessoas que estão participando dessas manifestações não percebem -
ou não querem perceber - que é essa democracia burguesa, com suas limitações e
falhas (muitas falhas, diga-se de passagem) que garante a elas o direito de
expressar suas opiniões, mesmo as mais esdrúxulas.
A ditadura militar não apenas perseguiu e matou pessoas,
homens e mulheres, que lutavam por um país melhor. Ela dizimou não apenas
vidas, mas sobretudo a perspectiva de um Brasil diferente, que se expressava
nas lutas por uma reforma agrária a serviço dos trabalhadores, por ampliação
dos direitos civis, por uma cultura mais próxima de nosso povo, buscando
aproximar cada vez mais as diferentes tradições culturais - riquíssimas - de
nosso país. A ditadura militar destruiu tudo isso com o golpe de 1964.
Nosso povo não pode cair em mais um conto de vigário desse
tipo. Devemos contestar a democracia em que vivemos? Sim, ela está, como diria
Lênin, a serviço dos interesses de uma classe, no caso os patrões e suas
organizações. O combate, portanto, a ser feito é de contestar as colunas de
sustentação desse regime que, a cada dia que passa, torna-se mais excludente e,
consequentemente, mais opressor de nossa classe. A volta da ditadura militar
não resolverá isso, pelo contrário, ampliará esta opressão sobre nossa classe.
Não precisamos mais passar por essa triste experiência, a hora agora é de
avançarmos na consciência de nossa classe, com vistas a construir uma
verdadeira alternativa de classe, a sociedade socialista.